histmus blog

21/10/2010

Cachuera : Concerto apresenta sonatas dos filhos de Bach : 28/10, 21h

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04/03/2010

Com Chopin, em busca da voz do piano que canta

. artigo publicado em 27.02.2010

. . fonte : jornal O Estado de São Paulo

. . . escrito pelo pianista Nelson Freire

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No bicentenário do compositor, suas obras permanecem como emblemas da expressividade do instrumento

27 de fevereiro de 2010 | 0h 00
Nelson Freire – O Estadao de S.Paulo

Como definir o que faz da música de Frederic Chopin (1810- 1849), celebrada este ano por conta de seu bicentenário de nascimento, um universo tão especial? O grande pianista Arthur Rubinstein disse certa vez que, ao interpretar suas obras, tinha a sensação de que ela tocava diretamente o coração das pessoas. E é fascinante perceber que isso vale tanto para leigos quanto para melômanos. E, por que não, para os próprios pianistas, para quem suas peças são um desafio constante. A brasileira Guiomar Novaes costumava dizer, divertida, que Chopin exige tudo do intérprete, “que precisa tocá-lo com cabeça, coração, com o pé, com a mão, com tudo”. Já Martha Argerich me confessou, em uma de nossas muitas conversas sobre sua música, que acha Chopin o autor mais difícil de tocar. “Os pianistas erram nele mais do que com a obra de qualquer outro compositor.”

Desde criança mantenho relação estreita com essa música. Mas eu me lembro, aos 14 anos, do impacto provocado pela leitura da Guiomar para o Concerto nº 2 para Piano e Orquestra. Foi paixão à primeira audição. Bastava ouvir os dois primeiros compassos do segundo movimento para perceber como essa música era incrível – e como a sua leitura a reinventava, forçando a própria orquestra, comandada por Otto Klemperer, a uma leitura diferente do que estávamos acostumados. Comecei a colecionar gravações ao vivo desse concerto com Guiomar. E, desde então, ele tem um lugar especial na minha vida e na minha carreira. Gosto muito do primeiro concerto também, do qual a Martha fez uma excelente gravação com o maestro Claudio Abbado, mas o segundo, que foi o primeiro a ser escrito, ainda hoje me parece mais misterioso, tocante, com a emoção à flor da pele.

Mistério, expressividade, emoção e até um pouco de exotismo – tudo isso ajuda a explicar a genialidade de Chopin, ainda que não dê conta por completo da tarefa. E não podemos esquecer das pequenas revoluções de sua escrita. O último movimento da Sonata da Marcha Fúnebre é fascinante, maluco até, imagino o escândalo que deve ter sido para a época. E isso já vem desde as primeiras obras. Schumann ficou doido com as Variações Op. 2 sobre um tema de Don Giovanni. Sua música está repleta de harmonias e invenções que só vamos encontrar bem mais tarde, em Maurice Ravel, por exemplo, como no caso dos acordes dissonantes no fim do Scherzo nº 1. Não gosto de comparações. Mas há uma passagem no primeiro do Liszt, segundo movimento, parecida com o recitativo do segundo movimento do Concerto nº 2 de Chopin – no entanto, fica a sensação de que Chopin vai mais fundo em busca da expressividade, com resultados impressionantes.

Isso sem falar nos Noturnos. Ao longo da gravação, em dezembro, dos vinte noturnos de Chopin para a Decca voltei a me encantar com a riqueza de mundos que essas peças sugerem. Drama, poesia, sedução, cada um dos noturnos oferece um universo. E o interessante é justamente essa possibilidade de transitar de um mundo ao outro. E enfrentar o desafio de fazer o piano cantar. Outro dia vi uma entrevista de Vladimir Horowitz para a televisão italiana na qual ele dizia que o mais difícil no piano é fazê-lo cantar. Chopin entendeu isso. E o canto em sua música é fundamental, você enxerga os ecos das óperas do bel canto, de Donizetti e Bellini.

O trabalho com a música de Chopin dura a vida inteira, uma eterna descoberta. É um prazer incrível estudá-lo, é tudo tão bem escrito, o legato, o cantabile. E de certa forma ele exige do intérprete uma especialização. É preciso se entregar a ele. Aí sim o resultado fica digno de sua criação. Acho fascinante, por exemplo, o equilíbrio necessário entre liberdade e disciplina. Gosto da definição de Liszt: para ele, o rubato em Chopin era como uma árvore – as folhas sacodem ao favor do vento, mas o tronco está ali, constante. Às vezes me perguntam em entrevistas se eu gostaria de tocar outro instrumento. E eu me pego pensando que não – pois sem o piano, eu não teria a música de Chopin.

Nelson Freire é pianista. Em 10 de março, lança álbum dedicado aos Noturnos (Decca) e no dia 13, abre na Sala São Paulo a temporada comemorativa da Sociedade Chopin do Brasil, interpretando o Concerto nº 2

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21/02/2010

Ano Chopin é festejado na Polônia com astros do piano e animação 3D

. artigo publicado em 17.01.2010

. . fonte : Deutsche Welle

 

Novo museu multimídia, coprodução cinematográfica internacional em 3D, festivais e concursos assinalam os 200 anos de nascimento do compositor Frédéric Chopin na Polônia, seu país natal.

Filho de mãe polonesa e pai francês, o compositor Frédéric Chopin nasceu em 1810 no lugarejo de Zelazowa Wola, próximo a Varsóvia. Após de passar a maior parte de sua juventude na capital, emigrou em 1830 para a França, onde residiu até sua morte, aos 39 anos de idade. Sobretudo em seu país natal 2010 é, portanto, Ano Chopin.

Entre suas obras mais populares, constam as mazurcas, baseadas no folclore polonês. Como explica a musicóloga Monika Strugala, coordenadora do projeto, as características nacionais da obra chopiniana estão associadas ao fato de, na época, a Polônia não constituir um Estado. No fim do século 18, seu território fora partilhado entre a Rússia, a Áustria e a Prússia, e a cultura era um meio de preservar o espírito nacional.

“Chopin deixou a Polônia sem saber que jamais retornaria. Ele era muito nostálgico, recordava os locais de sua infância, onde nascera e onde passara as férias. Dá para ouvir tudo isso em sua música.”

Duas datas de aniversário

A temporada de comemorações ao 200º aniversário do músico foi inaugurada no início de janeiro com um concerto de gala na Filarmônica de Varsóvia, estrelado pelo pianista chinês Lang Lang, de 27 anos de idade. Segundo Strugala, a escolha do virtuose não foi acidental, uma vez que Chopin conta com um grande número de admiradores na Ásia.

“A nostalgia do compositor e as qualidades visuais de sua música parecem ter grande apelo junto aos públicos japonês e chinês. Elas evocam imagens de um gênero tradicional de pintura japonesa, o qual mostra o mundo de uma maneira igualmente delicada.”

Entre os destaques do Ano Chopin na Polônia, está uma série de concertos entre 22 de fevereiro e 1º de março, as duas possíveis datas de nascimento do compositor. Dela participarão pianistas de renome, como Martha Argerich, Varrick Ohlsson e Krystian Zimerman.

“Fevereiro costumava ser considerado o mês [em que o músico nasceu], mas recentemente musicólogos descobriram que, em cartas a sua mãe, Chopin regularmente mencionava o 1º de março como data de seu aniversário”, explica Alicja Knast, curadora do novo Museu Chopin, em Varsóvia. “Chopin era um gênio, portanto, por que não haveria de ter dois aniversários. Além disso, todo compositor precisa ter uma certa aura de mistério.”

Imagem e som

Até pouco tempo atrás, os visitantes à capital polonesa tinham poucas chances de descobrir mais sobre o herói musical nacional, já que o museu que lhe é dedicado ficava comprimido no espaço de apenas três dependências. Porém em 1º de março de 2010 será inaugurado o novo museu multimídia.

Suas exposições incorporam tanto elementos visuais como auditivos, incluindo panoramas sonoros e uma narrativa em áudio baseada nas cartas de Frédéric Chopin.

“Traçando uma ponte entre o passado e o presente, queremos que o público vivencie Chopin. Uma das atrações será o mural externo, uma atividade de street art, na qual se criará um enorme espaço onde queremos apoiar todo tipo de criatividade dos jovens”, revela Knast. E acrescenta: é mais provável que os jovens participem quando recebem a chance de ser criativos.

Mais dois pontos altos aguardam os fãs do lendário virtuose do piano, no decorrer de 2010: em agosto, o festival intitulado “Chopin e sua Europa”, e, dois meses mais tarde, o concurso pianístico internacional exclusivamente dedicado à obra do polonês, reunindo cerca de 100 pianistas durante três semanas.

Chopin, de Tom e Jerry à animação 3D

Enquanto isso, em um dos principais estúdios cinematográficos da Polônia, na cidade de Lodz, uma equipe internacional roda um filme de animação em 3D baseado na música de Frédéric Chopin. A máquina voadora é uma coprodução da britânica BreakThru Films (dos realizadores do ganhador de Oscar Pedro e o Lobo) e do estúdio polonês Se-Ma-For.

A trilha sonora é executada por Lang Lang, que considera muito apropriada a combinação das harmonias pianísticas chopinianas com o desenho animado. “Comecei assistindo Tom e Jerry para entrar na música clássica e começar a tocar piano”, comenta, com bem-humorada ironia.

“Cinema de animação e música sempre estão estreitamente conectados, não há um contexto mais apropriado para reunir os dois”, afirma o astro chinês, acrescentando: “Foi um enorme prazer para mim compartilhar a música de Chopin com todo o mundo, ao fazer este filme”.

Autor: Rafal Kiepuszewski (av)