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08/09/2010

Deutsche Welle : Berg : Concerto para violino

. publicado na Deutsche Welle

. . em : 01.05.2009

Alban Berg (1885-1935) compôs o Concerto para violino em seu último ano de vida e o dedicou “à memória de um anjo”, referindo-se a Manon Gropius, filha do arquiteto Walter Gropius e Alma Mahler. Trata-se possivelmente de sua obra mais popular, após a ópera Wozzeck.

Nele, o austríaco alia a avançada técnica dodecafônica, de seu mestre Arnold Schoenberg, à expressividade romântica e a um grande virtuosismo instrumental. Na tentativa de descrever a personalidade da homenageada, a obra inclui diversas citações, como ritmos de dança, uma melodia popular da Caríntia ou, ao final, o coral Es ist genug (Basta! Leva meu espírito, Senhor), de J.S. Bach.

Os dois movimentos são: Andante – Allegro; O violinista Christian Tetzlaff é o solista desta gravação ao vivo, ao lado da Deutsches Symphonie-Orchester.

01/09/2010

Artigo : Ensaio de orquestra

. artigo sobre o Ensaio da Orquestra Filarmônica de Berlim no festival de Salzburg, Áustria

* * *

Ensaio de orquestra

Estado acompanhou com exclusividade trabalho do maestro Simon Rattle com a Filarmônica de Berlim

31 de agosto de 2010 | 0h 00

João Luiz Sampaio / SALZBURG – O Estado de S.Paulo

Caos sonoro sobre o palco da Grande Sala do Festival na manhã de domingo. Pouco antes das dez horas, instrumentos são afinados, músicos conversam, riem alto, arrastam cadeiras. Não dão muita atenção ao inspetor que, na frente da orquestra, chega para avisar que o ensaio não contará com a solista, a soprano Karitta Mattila e, que portanto, apenas as demais peças serão repassadas. Mais barulho, brincadeiras, partituras sendo procuradas nas mochilas. Até que do canto do palco surge a figura discreta, de roupa toda preta, em contraste com a longa cabeleira branca. Partituras na mão, sobe no pódio. Feito o silêncio, anuncia, suavemente: “Schoenberg, por favor.”

A orquestra é a Filarmônica de Berlim e a figura à sua frente, o maestro inglês Simon Rattle, diretor do grupo, para muitos o melhor conjunto sinfônico do mundo, rivalizado apenas pelos filarmônicos de Viena. Encarregados do concerto de encerramento desta edição do festival, tocariam naquela noite um programa ambicioso: além das Quatro Últimas Canções de Strauss, três pilares da música do século 20: as Seis Pecas para Orquestra, de Schoenberg; as Cinco Pecas para Orquestra, de Alban Berg; e as Três Pecas para Orquestra, de Anton Webern.

Se há uma genealogia da música contemporânea, no topo da árvore, diz Rattle, devem estar estas peças, escritas antes dos anos 20. Ainda hoje soam revolucionárias. E Rattle, em um misto de alemão e inglês, pede à orquestra que esteja atenta a detalhes. “Mais vibrato nas cordas, especialmente vocês, violoncelos”, diz. Puxa o spalla de lado e corrige a articulação das cordas. “Ta, ta, ta, ra, ta, ta, ta. Se não for assim, vocês não vão dar conta de acompanhar os metais, simples assim. Eles são o modelo aqui.” Rattle parece trabalhar em especial a arquitetura sonora. Corrige os sopros, batendo com a batuta na estante. “Um, dois, três. Precisão aqui é fundamental, marquem as notas. Evitem essa diminuição de andamentos, senão cada um vai chegar no final em momentos diferentes. A essência está aqui.” Volta às cordas. “O desafio, para vocês, é justamente o contrário. O esboço de melodia aqui não pode estar tão evidente. Apenas insinuem uma atmosfera etérea. Como ondas – o movimento é perceptível, mas o que leva a ele não precisa ser mostrado.”

Silêncio ensurdecedor. Mais interessante que ver Rattle construindo a interpretação, passagem a passagem (“ensaio bom e difícil”, comenta um músico depois), é perceber a reação da orquestra a suas orientações. Na obra de Alban Berg, encasqueta com o andamento em determinada passagem. “De novo”, pede simplesmente. “Vocês sabem.” E o som que surge em seguida articula toda a orquestra em um todo orgânico, brilhante. Sim, eles sabem. E como.

Chegamos então à peça de Anton Webern, seis rápidos movimentos que mobilizam um enorme efetivo orquestral. A percussão explode em um caos sonoro… uma, duas, três vezes. Rattle interrompe a orquestra calmamente. Há um caminho a ser construído aqui, diz. “Esqueçam a música por um instante. E se perguntem: para que serve a pausa que vem logo em seguida? Ele fala baixo, não desvia o rosto um só instante da centena de instrumentistas da filarmônica. “Atenção à dinâmica. O que exatamente estamos construindo aqui? Não é música, é silêncio. Mais um estouro da percussão. “Ainda não. A questão é a seguinte. Depois da música, vem o silêncio. Mas este silêncio precisa ser ensurdecedor. Barulhento.” Rattle termina o ensaio assim, regendo o silêncio. “Obrigado”, diz; cumprimenta o spalla. E deixa o palco rapidamente.

INTERVALO

Shakespeare musical

Depois de intensa negociação,

o diretor artístico da edição do ano que vem do Festival,

Markus Hinterhäuser, fechou com o maestro Riccardo Muti a ópera que ele vai apresentar em Salzburg no ano que vem: será o Macbeth de Verdi.

Hinterhäuser garante que vai aproveitar o gancho para apresentar pela cidade outras obras musicais inspiradas na peça de Shakespeare.

Disco novo

A violinista americana Hillary Hahn aproveitou a passagem por Salzburg, onde tocou com a Sinfônica Jovem Gustav Mahler o concerto de Brahms, para apresentar seu novo disco, com o concerto para violino e orquestra de Tchaikovski, que chega às lojas no próximo mês.

Realeza do canto

Foi um italiano que se destacou no concerto da Orquestra Real de Amsterdã: o veterano baixo Ferruccio Furlanetto, que interpretou as Canções de Dança e Morte do russo Mussorgsky.

fonte :

O Estado de São Paulo

25/02/2010

Festival de Viena celebra 125 anos do compositor Alban Berg

. fonte : Deutsche Welle

CULTURA | 09.02.2010

Festival de Viena celebra 125 anos do compositor Alban Berg

Em 9 de fevereiro de 1885, nascia Alban Berg, que viria revolucionar – junto com Schönberg e Webern – a composição musical no século 20. O Wiener Festwochen deste ano é dedicado a este expoente do dodecafonismo.

Entre os nazistas, a música de Alban Berg era considerada “arte degenerada”. Apesar de o compositor austríaco ter morrido em 1935, dois anos após a ascensão de Hitler ao poder, suas obras foram proibidas no Terceiro Reich, bem como as de seu mestre e amigo Arnold Schönberg.

Hoje, a primeira ópera de Berg, Wozzeck, é considerada um marco da história da música e uma das obras musicais mais significativas do século 20. Ele é celebrado como grande renovador da música, ocupando um espaço garantido entre os grandes mestres da vanguarda moderna.

Junto com Schönberg e Anton Webern, ele formou a chamada Segunda Escola de Viena, um movimento de compositores na virada de século que revolucionou a forma de compor.

Adotado por Schönberg

Albano Maria Johannes Berg nasceu em 9 de fevereiro de 1885, em Viena, mais como filho da literatura do que da música. Aos 15 anos, ele começou a compor como autodidata, apesar de jamais ter tido uma formação musical.

Em 1904, o talento do jovem Berg chamou a atenção do compositor Arnold Schönberg, mentor da música dodecafônica. Este, dez anos mais velho que Berg, reconheceu nas composições do jovem “um calor esfuziante de sentimentos” e o aceitou – junto com Anton von Webern – como aluno particular.

A influência do amigo paternal marcou Berg profundamente. Ele estudou seis anos com Schönberg. A amizade de ambos, no entanto, duraria a vida inteira.

Wozzeck: mundo em desintegração

A ópera Wozzeck, em três atos, foi composta em 1914, após Berg ter visto o fragmento dramático de Georg Büchner, Woyzeck, em Viena. Esse drama mostra o destino de um homem que se torna assassino de sua amante e, ao mesmo tempo, vítima. “Não é apenas o destino dessa pobre pessoa atormentada e usada por todo mundo que me é tão próximo; o que me atrai também é a atmosfera inusitada de cada cena”, escreveu Berg na época.

O compositor reconhecia na peça “a catástrofe exemplar do homem decadente em um mundo em plena desintegração”, segundo assinala o programa do Wiener Festwochen 2010, o festival vienense que na edição deste ano é dedicado ao gênio musical Alban Berg.

A repercussão da obra foi “como um grito de revolta e desespero”. Estreada em 1925, Wozzeck é a primeira ópera em composição integralmente atonal.

Lulu: obra inacabada sobre a beleza feminina

Outra obra-prima de Berg é a ópera Lulu, baseada na tragédia de duas partes de Frank Wedekind Erdgeist (O Gnomo) e Die Büchse der Pandora (A Caixa de Pandora). Nessa obra, ele se utiliza do sistema de composição atonal composto de 12 sons, criando a primeira ópera dodecafônica da história da música.

Com essa tragédia em torno da decadência de uma mulher de extrema beleza, Berg se remete a figuras femininas lendárias, de Isolda a Salomé, e às fantasias eróticas masculinas do fin de siècle.

No entanto, Lulu não chegou a ser composta até o fim. Alban Berg morreu antes de finalizá-la, no Natal de 1935, vítima de septicemia. A obra foi encerrada por Friedrich Cerha.

Concerto para Violino: “recordação de um anjo”

Famoso também é seu Concerto para Violino, de 1935. Nesse trabalho feito sob encomenda, Berg fez uma homenagem a Manon Gropius, filha de Alma Mahler-Werfel e do arquiteto Walter Gropius, falecida aos 18 anos em decorrência de paralisia infantil. Esse concerto, com o subtítulo “Recordação de um anjo”, é considerado até hoje uma perfeita síntese de tradição e dodecafonismo.

“Assim como naquela época, hoje a linguagem e a estética musicais de Alban Berg continuam tendo grande atualidade”, consta do programa do Wiener Festwochen, a ser realizado de 14 de maio a 20 de junho próximo na capital austríaca.

Durante esse festival, que marca o 125º aniversário e os 75 anos da morte de Alban Berg, serão executadas as principais obras do compositor, bem como composições de seus mestres, contemporâneos e discípulos.

SL/dpa/ap

Revisão: Roselaine Wandscheer