histmus blog

26/01/2012

Música da Grécia Antiga

Filed under: artigo, Grécia Antiga, períodos / estilos, textos — Tags: — histmus @ 13:10

. artigo extraído da wikipedia em português

. . no original você verá figuras e ligações para outras informações

Música da Grécia Antiga

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A cultura da Grécia antiga (c. séculos VII a I a.C.) contribuiu em larga medida para a origem da presente civilização ocidental. Mas, ao contrário da arquitetura e da escultura, por exemplo, que preservam grande número de exemplares em estado de conservação suficiente para serem bem estudados e compreendidos, a música da Grécia Antiga não pôde manter uma continuidade direta até os dias de hoje, mas não deixou de exercer influência significativa na cultura romana subseqüente, dali se transmitindo à Idade Média através da teoria, com suas escalas, modos e noções de harmonia.

O que hoje subsiste da música daquela época são uma multiplicidade de referências literárias, inúmeras representações visuais de músicos em ação com seus instrumentos, e um sistema teórico, mas das obras propriamente ditas resta apenas um punhado de fragmentos com notação, cujo deciframento exato ainda é objeto de controvérsia.

Origens e uso

A música entre os antigos gregos era um fenômeno de origem divina, e estava ligada à magia e à mitologia, havendo várias histórias míticas relacionadas à origem da música e suas capacidades e funções. Alguns instrumentos e modos era associados especificamente a certas divindades, como o aulos a Dionísio, e a kithara a Apolo. Além disso registros diversos indicam que a música era parte integral da percepção grega de como o seu povo teria vindo à existência e de que continuava a ser regido pelos deuses. Por exemplo, Anfião teria aprendido música com Hermes e teria construído Tebas através do poder do som; Orfeu podia tocar com tamanha doçura que até as feras quedavam absortas; Hermes teria inventado a lira, dada a Apolo em troca do gado que havia dele roubado. O próprio Apolo, depois assumindo o papel de Deus da Música e líder das Musas (das quais Euterpe tutelava a Música), é mencionado em competição com Mársias e Pã. Assim, estando presente em alguns de seus principais mitos, a música invariavelmente era usada nos ritos religiosos, nos Jogos Olímpicos e Pítios, nas festas cívicas, nas atividades de lazer e subsidiando outras formas de arte.

Sistematização

O elemento básico da música grega era o tetracorde, que consistia numa escala de quatro notas descendentes inclusas no intervalo de uma quarta justa, e os intervalos entre as quatro notas, sendo variáveis, definiam as modalidades diatônica, cromática ou enarmônica da peça musical.

O tetracorde cromático era formado por um intervalo de terça menor e dois intervalos de semitom; o tetracorde enarmônico tinha um intervalo de terça maior e dois de quarto-de-tom. O tetracorde diatônico variava de acordo com a posição do semitom, formando os subtipos dórico (semitom na base, de origem grega), frígio (semitom no centro, de origem asiática), e lídio (semitom no alto). A justaposição de dois tetracordes, ao que consta concebida por Terpandro de Lesbos, formava uma harmonia – não no sentido atual de sons simultâneos. Os tetracordes podiam, assim, ser conjuntos ou disjuntos. Se em uma harmonia disjunta se acrescentavam um tetracorde conjunto no topo, um outro também conjunto abaixo, e sob este uma outra nota (proslambanòmenos), criava-se o sistema téleion, ou perfeito, abrangendo duas oitavas inteiras. Com a mudança de oitava dos tetracordes anexos para baixo ou para cima do tetracorde fundamental criavam-se os hipomodos (hipodórico, hipofrígio e hipolídio) ou os hipermodos (hiperdórico, hiperfrígio e hiperlídio).

O grande teórico da música grega antiga foi Pitágoras, considerado o fundador de nosso conhecimento de harmonia musical – a relação física entre as diferentes freqüências sonoras (notas) e o efeito de suas combinações. Também foi ele o sistematizador da associação de cada modo com determinado estado de alma, imbuindo-os de uma ética especial. Por exemplo, o modo dórico era considerado capaz de induzir um estado (ethos) pacífico e positivo, ao passo que o modo frígio era considerado subjetivo e passional, uma sensibilidade hoje em grande parte perdida, mas que pode ser vagamente comparada ao efeito das modernas escalas maior, convencionalmente usada para produzir uma impressão animada e alegre, e menor, usada para descrever estados melancólicos ou introspectivos. Também a ele se deve a análise da música sob a ótica de uma matemática transcendental, relacionando-a à constituição íntima do universo, concebido como uma estrutura criada e sustentada através de relações numéricas perfeitas que produziam a chamada música das esferas, a qual, entretanto, só poderia ser inteligível através do pensamento superior. Daí a ligação da música com a filosofia e a conseqüente codificação de uma série de regras éticas para composição e execução musical, a fim de que a música humana ecoasse a ordem perfeita do cosmo.

O sistema de Pitágoras deve ter sido dominante por algum tempo, a julgar pelo ataque de Platão ao estado de coisas em sua época, que já considerava privado de ordem e sujeito ao juízo de aventureiros que ou desconheciam ou intencionalmente quebravam as regras estabelecidas. Entre estes revolucionários deveria estar Aristóxeno de Taranto, teórico prolífico que defendia o julgamento das consonâncias pelo ouvido e não por razões matemáticas, filosofia que levou modernamente ao sistema de temperamento de escalas. Mas a execução daquilo que soava bem ao ouvido, um ponto de vista considerado mundano e inferior que satisfazia somente aos sentidos físicos, profanava a ética musical estabelecida anteriormente, pois a música era vista não apenas como uma arte inconseqüente, ainda que investida de uma moral, mas era considerada também um poder efetivo por não apenas descrever os vários estados de espírito mas também por ser capaz de produzí-los concretamente nos ouvintes, e assim a violação de suas regras poderia desencadear desordens na sociedade como um todo. Não obstante os protestos dos idealistas, esta época foi marcada pela evolução da arte em direção a um subjetivismo, à forma livre, à elaboração maior da melodia e do ritmo, e ao uso de cromatismos.

Aristóteles continuaria nesta linha mais aberta de apreciação, estabelecendo uma justificativa antropológica para o fenômeno musical baseada no conceito da catarse. Para ele não havia nada de eticamente nocivo na música, pois ela não deveria pretender ser uma realidade, mas sim um modo de purificação das paixões pela sua indução imitativa, homeopática e por fim liberadora, dizendo que Platão confundia a realidade com a imitação da realidade. Na visão de Aristóteles a música era uma espécie de ócio e uma arte liberal e nobre, sendo ao mesmo tempo medicinal e educativa por oferecer às pessoas a oportunidade do confronto com sentimentos específicos, para conhecê-los e posteriormente, na vida real, poderem ser capazes de escolher os que fossem adequados.

Prática

A música grega mais antiga não deixou qualquer registro. As primeiras menções se encontram na era Homérica, quando já havia uma considerável cultura musical nacional em pleno florescimento, baseada principalmente na récita de poesia acompanhada com instrumentos, do qual o mais comum era a Fórminx, uma espécie de lira.

As descrições sugerem que a música grega era basicamente monódica, e no máximo heterofônica. É uma asserção geralmente aceita a de que a harmonia, como hoje é entendida – uma organização do tecido sonoro em camadas com várias notas soando simultâneas em acordes – é invenção mais recente, datando da Idade Média. Mesmo assim, alguns registros fazem crer que pelo menos em algumas ocasiões havia música realmente harmônica, ainda que isso fosse considerado uma técnica avançada e nem sempre adequada.

No século VI a.C. o coro passou a ter importante papel em eventos públicos, religiosos ou laicos, e a lírica coral se tornou um gênero autônomo, elaborando tipos definidos de composição para cada ocasião. Assim, eram entoados ditirambos em honra a Dionísio, peãs para Apolo, epitalâmios nos casamentos, trenodias nos funerais, partênios como canto de jovens, hinos em louvações variadas, e epínicos para os vencedores dos Jogos. Todas estas formas dependiam diretamente da estrutura e ritmo da poesia, e a origem do teatro grego está na evolução dos ditirambos cantados.

O ritmo

A teoria do ritmo recebeu grande atenção dos gregos antigos, comparável ao interesse contemporâneo por este aspecto da música, estando intimamente ligado à composição poética. O primeiro tempo, base do sistema, era definido pela nota breve (U), que duplicada formava a longa (-). A combinação de breves e longas gerava ritmos básicos, chamados de pés, análogos aos tempos modernos. Havia assim o iambo (U-), o troqueu (-U), o tríbraco (UUU), o dáctilo (-UU), o anapesto (UU-), e diversos outros.

A justaposição de pés diversos formava os metros, e vários metros compunham uma frase ou kôlon. Por sua vez as frases de agrupavam em períodos e os períodos em estrofes, ordinariamente seguidas de uma reprise (antístrofe) e de um final (epodo), havendo grande minúcia na regulação das normas para uso adequado de cada espécie de composição.

Notação e obras

A notação musical grega foi elaborada apenas no século IV a.C., e servia principalmente para auxílio mnemônico privado dos músicos profissionais. Havia dois tipos de notação: a vocal, que utilizava letras do alfabeto grego maiúsculo, e a instrumental, empregando sinais do alfabeto fenício em posições variáveis. Além disso outros sinais como pontos e traços eram adicionados para significar modificações.

Atualmente sobrevivem apenas poucos fragmentos de obras musicais da antigüidade, e apenas uma peça é completa, o breve Epitáfio de Seikilos. A maior parte dos fragmentos data dos séculos II e III a.C. O mais antigo é do século V a.C., com só poucas notas inscritas em uma cópia da tragédia Orestes, de Eurípides. Apesar de sua aparente simplicidade, o sistema notacional grego ainda não foi plenamente decifrado, e tudo o que se pode hoje reconstituir para execução prática é em base conjetural.

Instrumental

Alguns instrumentos se tornaram tradicionais:

▪ A lira, um instrumento de cordas tangidas afinadas segundo as notas de um dos modos, e fixadas em um arcabouço formado com o casco de tartaruga. Era usada como acompanhamento para recitativos e canções.

▪ A kithara, também um instrumento de cordas, mais complexo que a lira, possuindo uma caixa de ressonância. As cordas era tocadas com um plectro e podiam ser afinadas em diferentes alturas.

▪ O aulos, usualmente duplo (Diaulos), sendo uma espécie de flauta com palheta, possivelmente produzindo uma sonoridade similar à do oboé ou clarinete.

▪ A flauta de Pã, também conhecida como Syrinx, constituída de uma série de tubos fixos juntos, de comprimentos diferentes, através dos quais o ar era soprado pela extremidade superior.

▪ O hidraulos, um instrumento de teclado, precursor do órgão moderno. Empregava água sob pressão para produzir som através de movimento do ar nos tubos.

Há ainda registro de muitos outros instrumentos, como a concha marinha perfurada, um tipo de trompete (Salpinx), uma flauta transversal chamada Photinx, címbalos, sistros e tambores, e diversos mais.

Ver também

Epitáfio de Seikilos

Rapsodo

Aedo

Ritmo no poema

Métrica

Ligações externas

Descrição de instrumentos e outras informações

Ancient Greek music Academia de Ciências da Áustria. Gravações de fragmentos musicais e instrumentos antigos.

28/01/2011

Chopin provavelmente tinha epilepsia, dizem pesquisadores

. artigo publicado em 25.01.2011

. . fonte : BBC Brasil

 

Um estudo realizado por pesquisadores espanhóis indica que o compositor erudito Frédéric Chopin (1810-1849), que sofreu de alucinações visuais durante toda a sua vida, provavelmente tinha epilepsia.

De acordo com a pesquisa, divulgada pela publicação especializada Medical Humanities, o tipo e a frequência de alucinações que o compositor apresentava é comum em pacientes com epilepsia do lobo temporal.

Outros pesquisadores atribuíram seus surtos de melancolia a transtorno bipolar e depressão.

Chopin ficou conhecido como um artista frágil e sensível e se tornou um dos maiores símbolos do romantismo na arte.

`Fantasmas e terrores´

Visões aterrorizantes são descritas pelo próprio Chopin e por pessoas próximas em cartas e memórias sobre o compositor.

Em seus relatos, a amante de Chopin, George Sand, se recorda de diversos momentos em que ele se mostrou assustado com as visões.

Entre estes momentos, está uma viagem para um monastério na Espanha que teria sido “cheio de terrores e fantasmas” para o músico.

Em uma carta escrita para a filha de George Sand, Chopin descreveu o momento, durante a performance de Sua Sonata em Si bemol menor na Inglaterra em 1848, em que ele se retirou abruptamente do salão.

O pianista diz que havia visto criaturas saindo de seu piano e precisou sair para se recompor.

Os cientistas espanhóis dizem que alucinações ocorrem em diversos distúrbios médicos e psiquiátricos, incluindo a esquizofrenia.

No entanto, elas geralmente tomam a forma de vozes, e não de visões. Por isso, a explicação mais provável para as visões de Chopin é um tipo de epilepsia que ocorre lobo temporal do cérebro.

Ela costuma produzir alucinações visuais complexas e fragmentadas como as relatadas por Chopin.

Ópio

O compositor também tomava láudano, uma solução alcoólica com ópio, para diminuir seus sintomas. No entanto, os médicos descartaram a ideia de que a bebida tenha sido responsável pelas alucinações, já que elas começaram antes que Chopin começasse a usar a solução como tratamento.

O médico Manuel Varquez Caruncho, que liderou o estudo, diz que sem a ajuda dos testes modernos é difícil fazer um diagnóstico definitivo do pintor.

No entanto, ele acredita que a doença de Chopin pode facilmente ter sido ignorada por seus médicos, porque o conhecimento sobre a epilepsia naquela época era limitado.

“Duvidamos que outro diagnóstico para a lista nos ajude a entender o mundo artístico de Frédéric Chopin, mas saber que ele tinha essa doença pode ajudar a separar a lenda da realidade e a compreender melhor o homem e sua vida”, disse Caruncho.

• • • • •

14/01/2011

Ópera em Hamburgo atrai jovens com montagens curtas e figurino moderno

Filed under: artigo, ópera, gênero / forma, textos — Tags: — histmus @ 9:46

. artigo publicado em 13.01.2011

. . fonte : Deutsche Welle

* * *

Tornar a ópera atraente para o público jovem é o desafio dos responsáveis pelo espaço Opernloft, de Hamburgo. Para isso, eles optam por versões mais curtas e adaptadas aos novos tempos de clássicos do gênero.

A princípio, o terceiro andar de uma velha fábrica no centro de Hamburgo não parece em nada com uma ópera. O antigo depósito deu lugar a um espaçoso teatro com confortáveis assentos, um bistrô e uma decoração em cores quentes, chamado Opernloft. Aqui óperas são encenadas de maneira não convencional para atrair a atenção de jovens e idosos.

Ópera é algo antiquado, prolixo e incompreensível – é para acabar com esse tipo de preconceito que o trio que coordena o Opernloft trabalha há três anos. Ao lado das dramaturgas Yvone Bernborn e Susann Oberacker, a cantora de ópera Inken Rahardt é responsável pelo bem-sucedido projeto que criou a casa de ópera alternativa.

Com o conceito Operabreve, no qual as produções têm 90 minutos e um figurino moderno, e óperas para crianças com cenários cheios de fantasia, as três artistas da cidade hanseática estabeleceram uma forma única de teatro musical. “Existem muitas pessoas que gostam de ir ao teatro ou a uma casa de ópera, mas uma produção com três horas de duração é muito longa para elas”, diz Rahardt. A solução foi optar por encenações mais curtas.

“Apresentamos a obra de uma forma mais contemporânea. Recitativos e coros que não estão diretamente ligados à trama são deixados de fora, e nos concentramos nos pontos altos. Além disso, nossas óperas sempre focam o aqui e o agora, em vez da época original da obra. Contamos uma história pela qual as pessoas de hoje se interessam”, ressalta a artista.

Versões atuais

Uma orquestra grande e cenários luxuosos não existem no Opernloft. Cantores jovens apresentam as mais famosas obras da ópera de forma curta, atual e compreensiva. Por exemplo, ao adaptar as tramas para a realidade atual: La Traviata, de Verdi, se passa no bairro boêmio de uma grande cidade. Já a protagonista de Carmen vira uma graciosa estudante que tenta seduzir um jovem professor. Além disso, há também a sessão Electr’Opera, onde os jovens cantam e encenam junto com profissionais.

“Hoje as pessoas têm outra dimensão sensorial, com DVD’s, playstation, cinema e efeitos especiais”, diz Rahardt. Por isso, para tornar uma ópera atraente é necessário dar a ela uma nova roupagem, como por exemplo reunir as principais melodias numa canção pop, argumenta.

Teatro musical para crianças a partir dos 3 anos é uma das principais ocupações de Rahardt e equipe. “Para nós, ópera infantil não é um subproduto da grande ópera, mas um produto de qualidade. Queremos apresentar conteúdo e não apenas oferecer entretenimento”, ressalta.

Para as crianças são criadas versões cheias de humor e de figurino divertido, com atenção aos detalhes. Para esse público é expressamente permitido cantar e dançar durante a apresentação, e quando a trama é retomada, um narrador surge para contar a história. Obras como A Flauta MágicaO Pequeno AnelHänsel e Gretelacabam se tornando as encenações preferidas de toda a família.

Duplo desafio

Há quase dez anos o Junges Musiktheater Hamburg apresenta produções de óperas para crianças, jovens e iniciantes. Foi só em 2007 que o teatro pôde se mudar para o centro da cidade – foi então que surgiu o Opernloft.

Desde então, as coordenadoras do teatro enfrentam um duplo desafio. Como “ópera para principiantes”, elas oferecem teatro musical para crianças, jovens e adultos. Ao mesmo tempo, servem de trampolim na carreira de jovens cantores. Um conceito que já ganhou bastante reconhecimento e alguns prêmios teatrais.

Para Rahardt, porém, existe uma motivação adicional. “Gostaríamos que a ópera fosse preservada e que as pessoas tenham acesso a ela, porque acreditamos que a ópera pode tornar a vida muito mais bela.”

Autora: Gudrun Stegen (df)
Revisão: Alexandre Schossler

* * * *

11/01/2011

artigo : Toda a liberdade de Bernstein

. artigo publicado em 10.01.2011

. . autor : João Marcos Coelho

. . . fonte : jornal O Estado de São Paulo

* * *

Sai no Brasil o histórico concerto em que o maestro troca verso de Schiller, usado por Beethoven

O belo mas traiçoeiro manto sublime que envolve as artes costuma esconder o fato de que, como todos os demais seres humanos, os artistas também são políticos, como dizia Picasso em seu linguajar direto como um gancho de esquerda: “O que você pensa que um artista é? Um imbecil que só tem olhos se é pintor, ou ouvidos se é músico, ou uma lira em algum canto de seu coração se é poeta, ou até, se é um boxeador, tem apenas músculos? Ao contrário, ele é ao mesmo tempo um ser político (…) A pintura não é feita para decorar apartamentos. É um instrumento de guerra para ataque e defesa contra o inimigo.”

Ele talvez tenha esquecido que os pintores levam vantagem em relação aos compositores, por exemplo, porque ninguém pode mexer em suas obras. Guernica, por exemplo. Ela lá está, íntegra até hoje, no Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, em Madri. Pode-se gostar ou não da mensagem política que ela pronuncia visualmente, mas não se pode desfigurá-la. A música já não desfruta esse privilégio, como demonstra o DVD que agora sai no Brasil pela Opus Arte por R$ 39, com uma execução muito especial da Nona Sinfonia de Beethoven, regida pelo maestro norte-americano Leonard Bernstein na noite de Natal de 1989, poucos dias depois da queda do Muro de Berlim.

O concerto possuía um significado histórico importantíssimo: marcou a unificação de Berlim e das Alemanhas. Instrumentistas norte-americanos (da Filarmônica de Nova York), franceses (da Orquestra de Paris), russos (da Orquestra do Kirov de Leningrado) e ingleses (da Orquestra Sinfônica de Londres) juntaram-se à Orquestra Sinfônica e Coro da Rádio Bávara, enxertados com coral de crianças da Filarmônica de Dresden.

A Nona é uma das obras mais intensa e ideologicamente manipuladas da história da música. Nos últimos 186 anos, como narra em detalhes o pesquisador Esteban Buch em Música e Política – A Nona de Beethoven, livro de 2001, ela serviu aos poderosos de plantão e foi usada para todos os fins. Um processo que alcançou um de seus clímax naquele 1989. Bernstein “operou cirurgicamente” uma palavra dos famosos versos cantados no movimento final, a célebre “Ode à Alegria”: em vez de “Freude”, alegria, mandou as centenas de coristas cantarem “freiheit”, ou seja, liberdade. Isso tudo debaixo das barbas da estátua imponente do autor dos versos, o poeta e filósofo Schiller, na entrada do teatro berlinense que recebeu aquele concerto histórico.

Evidentemente, ninguém poderia discordar de uma mudança dessas. Falar de liberdade só pode soar positivo. E Bernstein, convenhamos, possuía uma legitimidade acima de qualquer suspeita para assumir a troca de palavras. Afinal, desde os tempos de estudante em Harvard, nos anos 30 do século passado, jamais escondeu de alguém sua postura política de esquerda.

O conteúdo de sua suculenta pasta confeccionada pelo FBI por meio século só foi divulgada há dois anos. A direita norte-americana não se conformava com o intenso ativismo político do maior músico de seu país, que recebeu, nos anos 60, panteras negras para jantar em seu elegantíssimo apartamento da Park Avenue, em Nova York, e propiciou ao então jornalista Tom Wolfe a criação da expressão “radical chic”.

A questão básica, entretanto, é outra. Ao alterar a letra de uma obra como esta, Bernstein e todos os participantes do evento equipararam-se aos musicólogos, músicos e compositores nazistas que substituíram as letras dos corais de Haendel para introduzir louvores ao Reich dos Mil Anos. Teoricamente, as mudanças são de igual natureza.

Por isso, e mesmo que me chamem de ranzinza e ingênuo como xingaram, no passado, figuras como George Orwell e Arthur Koestler, sinto que a atitude mais adequada teria sido respeitar os versos tal como foram utilizados por Beethoven em sua sinfonia coral.

No curto texto no folheto interno do DVD, Klaus Geitel chega a aventar a hipótese de que “sempre se especulou que Schiller tenha feito um jogo verbal de esconde-esconde e que seu poema na verdade referia-se a liberdade, e não simplesmente a alegria”; e diz que Schiller fez isso para fugir da censura daqueles “tempos despóticos”. Parece mais uma forçada de barra. Melhor sair do muro e assumir uma posição contra ou a favor. Em todo caso, bons tempos aqueles em que os músicos mudavam de lado por convicções ideológicas, e não por meras motivações individuais, como hoje em dia.

Quanto à performance – há, claro, uma enorme eletricidade no ar. As imagens prévias ao concerto de milhares de pessoas demolindo com picaretas o muro de Berlim impactam qualquer um. Mas a qualidade musical é mediana. Foi um “happening” beethoveniano. O máximo que se pode dizer é que a festa estava boa. E serviu para ilustrar um momento histórico, que marcou para muitos o verdadeiro fim do século 20.

• • • •

26/12/2010

Toque de classe na música brasileira

. artigo publicado em 25.12.2010

. . autor : Gilberto Mendes

. . . fonte : jornal O Estado de São Paulo

* * *

GILBERTO MENDES – O Estado de S.Paulo

Já escrevi sobre a surpresa que tive ao ouvir no cinema a bela inglesinha, que é Keira Knightly, numa cena no metrô de Londres, sob pesado bombardeio alemão durante a guerra, cantando deliciosamente o tema musical de Ódio no Coração, composto por Alfred Newman. Uma das músicas de minha vida! E agora minha querida amiga Tereza Vasquez me traz de presente um DVD com exatamente essa paradisíaca história dos mares do sul, comoção de minha juventude.

Oceânica, devoradora, uma história que me seduziu de maneira incomum: fiquei literalmente apaixonado pela Gene Tierney naquele papel de uma adorável nativa de olhos claros, cor do céu. Coisas que só pode entender gente ligada ao mar, a Conrad, Somerset Maughan, como somos eu, a amiga Tereza e um inesquecível companheiro de andanças musicais que já partiu para sua derradeira viagem. Sim, estou falando do compositor José Antonio Almeida Prado, nascido em Santos, “porto mítico, cidade de forte vanguardismo cosmopolita, que iria definir seu futuro universalismo estético”, conforme bem explica o escritor Flávio Amoreira. Onde ele viveu por um largo tempo, no feérico, trepidante Gonzaga, do saudoso Parque Balneário Hotel, e também do aristocrático solar da sua família, “paulistas de 400 anos”, renomados exportadores de café.

E um dia, quem me pergunta se poderia levar à minha casa certo jovem compositor que gostaria muito de conversar comigo? Sempre Tereza, no seu eterno elan de costurar ligações culturais. Já o conhecia de vista, e de nome, como um dos mais promissores alunos de Camargo Guarnieri. Nossa intimidade foi imediata, o que acontece com velhos marinheiros, apesar de eu ser vinte anos mais velho. Como ainda bem observa Flávio Amoreira, “unía-nos o sentimento atlântico do mundo, que nos torna brasileiros da costa, abertos a experimentos que nos chegam como exotismos flutuantes.”

Mar, belo mar selvagem de nossas praias solitárias, escreveu Vicente de Carvalho em uma de suas canções praieiras. Era o que nos irmanava, desde o começo de nossa amizade. Mas havia uma pedra em nosso caminho, diria outro poeta. Almeida Prado queria apresentar uma obra sua no Festival Música Nova. Expliquei pacientemente que teríamos o maior prazer, mas ele precisaria mudar a linha estética que vinha seguindo. A ansiedade sua era tal que ele mudou, rapidamente, compondo uma peça para violino e piano já dentro da linguagem musical que caracterizava nosso festival. Uma ruptura fatal que iria mudar fundamentalmente o que ele iria compor dali para a frente.

Muito gentilmente, Almeida Prado gostava de dizer que estudou comigo. Não é verdade, ele não precisava disso. Eu é que deveria ter estudado com ele, já que, na verdade, estudei pouco música, comecei tarde. Ainda componho de ouvido, muitas vezes. O que eu fiz foi colocar todos os meus livros, revistas e partituras à disposição dele. Além de conversarmos muito sobre música, o que muitas vezes funciona como verdadeiras aulas. E neste caso, eu também aprendi muito com ele.

Grande conversador, era delicioso seu humor, suas provocações, a finura com que compreendia a natureza musical de seus amigos. Tanto ele como eu tínhamos muita atração pelas citações, pelo kitsch musical cinematográfico. Uma vez ele me deu de presente um LP com as músicas do filme Rapsódia, grande sucesso de público, insistindo para que eu fizesse uma sonata para piano e violino citando, como temas, as obras tocadas no filme pelos dois intérpretes que disputavam o amor de Elizabeth Taylor, um deles Vitório Gassman. Achava que fazia o meu gênero. Fiquei devendo.

Como colegas, iríamos nos encontrar algumas vezes em festivais de música no exterior. Não me esqueço daquela viagem muito louca de Madri a Toledo, num velho carro encrencado do saudoso compositor português Jorge Peixinho. Depois eu ainda me encontraria com Almeida Prado em Paris, só para algumas caminhadas pelo Boulevard Saint-Germain des Près e un café crème avec croissant no Les deux magots. Num restaurante em Colônia, Alemanha, lembro-me bem da sua ansiedade, recém casado, para conseguir falar pelo telefone com sua admirável esposa, a mãe futura de suas igualmente admiráveis filhas.

Só nos resta agora olhar para cima, como experientes comandantes, e através das “Cartas Celestes” de nosso saudoso amigo, descobrir por sobre quais ondas sonoras ele vai navegando, vai temperando, à espera dos amigos …

GILBERTO MENDES É COMPOSITOR, CRIADOR DO FESTIVAL MÚSICA NOVA E AUTOR DE, ENTRE OUTRAS OBRAS, UMA ODISSEIA MUSICAL (EDUSP)

25/12/2010

Romance em ré bemol

. publicado em 25.12.2010

. . autor : João Marcos Coelho

. . . fonte : jornal O Estado de São Paulo

* * *

Por que ré bemol? Foi o próprio Chopin quem definiu assim sua estranha relação com a condessa Delfina Potocka. Um documentário inglês revê esta história

25 de dezembro de 2010 | 0h 00
João Marcos Coelho – O Estado de S.Paulo

Nenhum outro compositor preenche como Chopin a figura romântica e andrógina do criador musical ao mesmo genial e frágil. Nariz adunco, apenas 44 quilos, angustiava-se ao apresentar-se em público (só fez 30 recitais/concertos em sua vida). Viveu com a escritora francesa que, além do nome masculino, George Sand, vestia quase exclusivamente terninho e fumava charuto. Ela qualificou oito dos nove anos de romance como de “devoção maternal”. Morreu aos 39 anos de tuberculose, após ter revolucionado a música para piano de modo definitivo. Se a literatura pianística fosse uma Bíblia, Bach seria o Velho Testamento com os 48 prelúdios e fugas do Cravo Bem Temperado e Chopin o Novo Testamento com os 24 estudos opus 10 e 25 e os 24 prelúdios opus 28. Mas, para o grande público, Chopin é o autor das polonaises, mazurcas e sobretudo os noturnos – o patriota que pediu para ter seu coração arrancado de seu peito e levado à sua querida Polônia natal.

O docudrama O Mistério de Chopin – o estranho caso de Delfina Potocka, originalmente lançado em VHS em 1999 – data dos 150 anos de morte do compositor – desconstrói esta imagem angelical. Foi um ranger de dentes furioso entre melômanos e musicólogos, além de políticos poloneses e do Instituto Chopin de Varsóvia.

Amante insaciável. Também, não era para menos. Tirou-se do armário a história do romance turbulento do compositor com a condessa Delfina Potocka, uma autêntica devoradora de homens nas primeiras décadas do século 19. E, a julgar pelas 108 cartas por ela recebidas de Chopin, que sua bisneta, Paulina Czernicka, divulgou logo após a Segunda Guerra Mundial, em Varsóvia, o compositor assumiu-se como amante tórrido, antissemita convicto e quase antipatriota. Ou seja, tudo que a posteridade gostaria de esquecer sobre ele.

O docudrama, misto de documentário com imagens de época e recriações dramáticas, agora relançado em DVD pela Arthaus Musik no mercado internacional, é assinado pelo cineasta inglês Tony Palmer, emérito especialista em filmes de temática musical, autor de mais de uma centena de documentários musicais, que vão dos Beatles a Stravinski, do Festival de Salzburgo a Frank Zappa e Maria Callas.

Valsa do minuto. Para ficarmos no domínio dos docudramas de colorações ideológicas, também é seu o antológico e igualmente super controverso Testemunho, baseado no livro de Solomon Vokov, que mostra um Shostakovich como dissidente soviético enrustido.

Um ré bemol diferente. Foi assim que Chopin definiu a companheira nestas controversas e tórridas cartas. Dedicou-lhe seu segundo concerto para piano e orquestra, a célebre Valsa do Minuto, opus 64, no. 1 – e pediu-lhe para cantar e dançar em seu leito de morte. O romance começou em Varsóvia e permaneceu até a morte do compositor, em 1849. “É estranho e maravilhoso que a mesma energia que se usa para fertilizar uma mulher, isto é, para criar um homem, seja usada também para criar uma obra de arte”. Este raciocínio tipicamente freudiano fez os especialistas desconfiarem da autenticidade das cartas. Mas ele beira a pornografia quando diz a sua Findelka que “desejo estar dentro de você, beijar teus mamilos, tuas pernas, saborear a doce entrada de tua alma, teu ré bemol, eu diria”. Tudo temperado por sua música interpretada pela excelente pianista russa Valentina Igoshina.

Este erotismo certamente é novidade em Chopin. Por outro lado, a consciência de formar um estranho casal com Sand o faz dizer, nessas cartas, que “sei que nos chamam de Madame Chopin e Monsieur Sand”. Palmer diz que não acredita nem desacredita nas cartas, mas esclarece que elas ajudam a entender melhor a intensidade de sua música. O antissemitismo, por exemplo, já era conhecido em cartas autênticas – mas o assunto dificilmente vem à tona porque mancha sua angelical figura.

Estranho suicídio. O caso é que Paulina Czernicka jamais mostrou os originais destas cartas – apenas cópias por ela datilografadas. Isso enfraqueceu demais o achado. A fortíssima reação na Polônia tem a ver, lógico, com a maculação da imagem de um herói nacional. Mas não precisavam, como sugere Palmer, forjar um suicídio para calar a voz da bisneta da “notoriamente hospitaleira vulva” da bela e refinada cantora Delfina Potocka, na grosseira expressão de um dos mais recentes biógrafos de Chopin, Jeremy Siepmann.

Musicalmente, além de criticar seu amigo Franz Liszt (“ele se apropria das obras dos outros sem cerimônia”), há frases interessantes, como a de que “não sou a pessoa certa para dar concertos. O público me intimida. A respiração da plateia me asfixia, os olhares do público me paralisam”. Ou então as que Palmer coloca em sua boca no leito de morte, não sei se tiradas destas cartas a Delfina: “Os sons existem antes das palavras; a palavra é apenas a modificação de um som. As palavras criam a linguagem, mas os sons criam a música. E a arte de manipular o som é chamada de música. Nossos mais profundos sentimentos se expressam não em palavras, mas na música.”

Estas 108 cartas sem dúvida nos ajudam a compor um retrato mais complexo e profundo de Chopin. Pode não ser o oficial nem o correto, mas é bem mais interessante que a correspondência oficial do compositor, disponível em edição nacional, da Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com 700 maçantes páginas, de 2008.

22/10/2010

The Sound of Spirit

. artigo no New York Times sobre

. . o compositor estoniano Arvo Pärt

. . . o original está aqui

. . . . no sítio original você pode ver fotos, imagens

. . . . . e ouvir algumas músicas deste compositor

*   *   *

By ARTHUR LUBOW

Published: October 15, 2010

Emigrating from the Soviet Union to the West in January 1980 with his wife, Nora, and their two small sons, the Estonian composer Arvo Pärt was stopped by border police at the Brest railroad station for a luggage search. “We had only seven suitcases, full of my scores, records and tapes,” he recalled recently. “They said, ‘Let’s listen.’ It was a big station. No one else was there. We took my record player and played ‘Cantus.’ It was like liturgy. Then they played another record, ‘Missa Syllabica.’ They were so friendly to us. I think it is the first time in the history of the Soviet Union that the police are friendly.” He was joking, but not entirely. Later, when I asked Nora about that strange scene at the border, she said, “I saw the power of music to transform people.”

Most contemporary composers aim to ravish the ear or to tickle (or boggle) the mind. Pärt is playing for higher stakes. He wants to touch something that he would call the soul, and to a remarkable extent, he is succeeding. When I would mention to friends or acquaintances that I was writing about Pärt, I was surprised at how many responded, “Oh, I love Arvo Pärt!” It’s not something you often hear when you mention a contemporary composer. The enthusiasm for Pärt’s music extends beyond the circles of classical music (where he is sometimes derided as backward-looking and boring) to include admirers in the pop-music world, like Michael Stipe of R.E.M. and Bjork. Many of Pärt’s pieces are settings of religious texts, and even the instrumental works bear a whiff of church incense. Yet the compositions resonate profoundly for the unconverted as well as the faithful. “It’s a cleansing of all the noise that surrounds us,” says the violinistGidon Kremer. It is music that reveals itself gradually, with a harmonic stillness that conjures up an alternative to hectic everyday existence. “I was attracted to the unbelievable calm and brilliance of his music, and a seeming simplicity,” Stipe told me. “As a musician and an artist, you realize that within its simplicity, it’s incredibly complex. It brings one to a total meditative state. It’s amazing, amazing music.”

Pärt (pronounced PAIRT) writes in a style that is unmistakably his own. “You put on a piece and you can tell at once it is Pärt — even the early pieces,” says the Estonian-born conductor Neeme Jarvi, who has known Pärt since 1960. “You can tell that with Shostakovichor Khatchaturian, but we don’t have many composers these days who have that ability to show, ‘This is me.’ ” Although Pärt’s music is often compared to the Gregorian chant in a monastery or the early polyphonic music of the Renaissance, you could just as easily liken it to the abstract paintings of Mondrian. It is governed by very strict rules in a framework so simple and clear that any deviation — a single dissonant note or an unexpected pause — can be as galvanizing as a small, yellow rectangle in a painted grid.

Last month, Pärt marked his 75th birthday, and the event was celebrated with a festival of his music throughout Estonia, where, says the younger Estonian composer Erkki-Sven Tuur, he is “a living legend.” There were performances of recent as well as familiar pieces, a reminder that Pärt, an energetic man with a reedy voice, loping gait and erect posture, shows few signs of slowing down. ECM New Series, which was inaugurated 26 years ago with his breakthrough work “Tabula Rasa,” likewise balanced the old and new, releasing a first recording of Pärt’s Fourth Symphony (which was premiered in 2009 by the Los Angeles Philharmonic) and preparing to issue a deluxe commemorative edition of “Tabula Rasa” in December. This year, Pärt’s major new work is “Adam’s Lament,” a 25-minute piece for string orchestra and chorus, based on an old Russian text. (“Adam’s Lament” will have its first North American performance next month in New York, as part of the White Light Festival at Lincoln Center.)

In one birthday-festival concert that I attended, in an old church in the Estonian capital of Tallinn, a long-stemmed red rose was handed to each of the players and then to the composer, who bounded up to the stage, playfully bopping the heads of the musicians with his floral baton. Belying his mythologized public reputation as solemn and monklike, Pärt disarmingly blends the antic with the earnest. Before we met, I could comprehend the impulse to cast him in a religious mold (although for me, with his aquiline nose, furrowed brow and gray-flecked black beard, a different holy prototype comes to mind — one of the apostles as painted by Tintoretto). Appearance notwithstanding, he is neither an ascetic nor a recluse. “He’s a man of the world,” says Manfred Eicher, the ECM founder and record producer, who is his close friend. “He is very centered. He knows exactly what he wants and doesn’t want.”

He is also forthright on worldly matters that he deems important. He dedicated the Fourth Symphony last year to Mikhail Khodorkovsky, who was an oil oligarch before he ran afoul of Vladimir Putin, the former president and current premier of Russia; since 2003, Khodorkovsky has been imprisoned for fraud and tax evasion. And after the murder, in October 2006, of the outspoken investigative journalistAnna Politkovskaya, whose articles embarrassed both Putin and the pro-Moscow government in Chechnya, Pärt declared that all concerts of his music that season would be performed in her memory. He volunteered to me that he knew that in making such gestures he was venturing outside his recognized bailiwick. “I am not a politician; I’m a dilettante,” he said. “But this is the normal thinking of people who came through this Soviet hell.”

In 1992, once Estonian independence had been proclaimed upon the ashes of the Soviet Union, Pärt and his wife came back to see their native land. They had spent 12 years in exile, mainly in Berlin. I asked him if he found Estonia very different on his return.

“It was nearly the same as when we left,” he said. “Same functionaries have changed their color. Some people say that after being occupied by another state, you need for healing the same amount of time as you were occupied. So we need 50 years and East Germany 48 years.”

He chuckled. “There was some kind of enthusiasm,” he added.

“Like teenager,” Nora chimed in. We were in a car, with Arvo driving us from the village in the country where they spend most of their time back to Tallinn, in which they keep a spacious apartment in the Old Town.

“ ‘Now we are free,’ ” Pärt mimicked, with a tone that was both wistful and amused. “Naïve a little bit. But the real life is something different. Then comes the difficulties. New bandits.”

At this point, a different strain of his personality sounded. “There is a good rule in spiritual life, which we all forget continually,” he said, “that you must see more of your own sins than other people’s.” He remarked that the sum of human sin has been growing since Adam’s time, and we all share some of the blame. “So I think everyone must say to himself, ‘We must change our thinking.’ We cannot see what is in the heart of another person. Maybe he is a holy man, and I can see only that he is wearing a wrong jacket.”

Some weeks later, I thought back on this conversation and reflected that in its two parallel lines — one worldly and critical, the other forgiving and tolerant — Pärt was recapitulating the two musical voices of the “tintinnabuli” style of composition, which he discovered after years of painful searching in the 1970s, and which has guided his music ever since.

The Arvo Pärt Center is located near the Pärts’ country home, in a newly built nouveau riche residence that conveniently became available in a foreclosure sale when the recession hit. The house now shelters the center’s administrative offices, and the former garage has been renovated into a climate-controlled archive.

The Pärts’ younger son, Michael, who was working abroad as a film-music editor, returned to Estonia two years ago to become the director of the center. Michael, who is 32, showed me the manuscripts that are the jewel of the archive, with a special place for his father’s spiral notebooks of the ’70s, which had been reinforced in those impoverished times with whatever was available, like scraps of leather or denim from old jeans. The acid in the Soviet recycled paper is leaching away the brightly colored felt-tipped-pen ink that the composer used to try out different harmonic accompaniments to his melodies; the center’s most pressing priority, occupying the attention of three staff members, is to scan these pages into digital images.

A little later, Pärt joined us and brought photostats of a 1976 notebook to show me. Along with musical notations, there were comments — in Estonian, Russian, Latin, German and English — that recorded his thoughts as well as quotes from texts. He read a few aloud, translating them into English for me. “ ‘The collection of energy must be the ground of form,’ ” he recited, and laughed. “What it means I do not know.” Such words are embellishments to the bulk of the journals, which are filled with musical notes. “I wrote thousands and thousands of pages,” he recalled, “to think in musical language, ‘What happened here?’ Why one melody makes this impression and traces the spirit, and another not? Every day, 10 or 20 pages or more. This was my work, every day. No way out.”

Before this long ordeal, music had come easily to him. The son of a heavy-machinery operator who left when Arvo was 2, Pärt moved into a more cultured milieu once his mother remarried a few years later. His stepfather was a commercial sign painter; in the family house were a concert piano and a stash of scores. The piano was lacking many keys in the middle register — “like a 5-year-old child with teeth missing,” Pärt told me. But even with this dilapidated instrument, he demonstrated his talent. His musical ability propelled him to a position as a drummer when he was drafted into the Soviet Army, and later to a place at the musical academy in Tallinn. There he became known as someone to watch — which, in the Soviet Union, was a mixed blessing.

As a young man, Pärt composed music that was exuberantly and aggressively modern. In 1962, his first orchestral piece, “Nekrolog,” was also the first Estonian 12-tone music to be performed; as Pärt’s biographer Paul Hillier recounts, it stirred great controversy, earning a specific denunciation in Moscow as “avant-garde bourgeois music” by the formidable musical arbiter Tikhon Khrennikov, secretary of the Union of Soviet Composers. Serial music was just one of the styles that Pärt was exploring. In numerous works of musical collage, a compositional approach that was popular with Shostakovich and other Soviet composers, he incorporated passages of shrill dissonance. Some pieces were nonsensically Dadaesque: in his Second Symphony, the musicians at certain points are instructed to crinkle pieces of brown wrapping paper or to squeak children’s toys.

Other works were more politically provocative. In 1968, he caused an uproar when his choral piece “Credo” was premiered. This time, the Latin text — it proclaims, “I believe in Jesus Christ” — is what outraged the devoutly atheistic authorities. Neeme Jarvi, who conducted the sole Soviet performance, told me: “The law was that you first had to show the score to the composers’ union. I didn’t. I thought they wouldn’t let us. The Estonian Philharmonic organization said, ‘Let’s do it.’ Next morning it was a big scandal in the Politburo of Estonia. Then the pressure starts. Some people were sacked from the Philharmonic organization.” He says that he retained his position because no one was available to replace him, but that the scandal dried up Pärt’s official commissions, forcing him to rely on writing film scores to earn a living.

In retrospect, what is most important about “Credo” is that in it, Pärt described in musical terms the crisis that was afflicting him. The composition juxtaposes a lovely harmonic progression from Bach’s Prelude in C with violently discordant music. “I wanted to put together the two worlds of love and hate,” he explained. “I knew what kind of music I would write for hate, and I did it. But for love, I was not able to do it.” That was what drew him to the idea of borrowing Bach’s theme and incorporating it into a collage. Like a tone poem, “Credo” dramatizes a story, in this case a scene from the New Testament. As Pärt explained, “It was my deep conviction that the words of Christ — ‘You have heard an eye for an eye, a tooth for a tooth, but I say to you, Do not resist evil, go with love to your enemies’ — this was a theological musical form. Love destroyed the hate. Not destroyed: the hate collapsed itself when it met the love. A convulsion.” So it is in “Credo.” Early on, the piece introduces the Bach quotation, the notes evolve into a sequence that is transformed following the rules of 12-tone music and then erupts into dissonance and clashing before subsiding once again into a gentle reprise of the Prelude.

After “Credo,” Pärt stopped composing. He no longer believed in the musical forms he had depended on. “I think if the human has conflict in his soul and with everything, then this system of 12-tone music is exactly good for this,” he told me. “But if you have no more conflict with people, with the world, with God, then it is not necessary. You have no need to have a Browning in your pocket, or a dagger.” One day, around that time, he thinks perhaps it was in a bookstore, he heard a snippet of Gregorian chant playing on a radio; it was like a window opening onto another world. “In one moment it was clear how much deeper and more pure is this world,” he continued. “Everyone has many antennae, and they catch what we cannot even register in our minds. But the feeling is clear.” In his obsessively thorough way, he began to study monody — the single line of Gregorian plainsong — and the birth of Western polyphony in medieval and early Renaissance music. He filled his notebooks with ancient melodies.

I asked if his attraction to religious music drew him into the church, but that was a distinction he didn’t recognize. “There is no border that divided,” he said. “Religion and life — it is all the same.” He was reading early Christian writings while he was immersing himself in musical study. “The old music, when it was written, the focus of this music was the Holy Scripture for composers for centuries,” he said. “It was the reality for every artist. Through one, you can understand the other. Otherwise, you are like some teachers in the Soviet Union who say, ‘Bach was a great composer but he had a defect; he was religious.’ It means this teacher cannot understand the music of Bach.”

At this time of spiritual searching, he met Nora, a musical conductor, who was embarked on a similar quest. Of Jewish origin, she was planning to immigrate to Israel with her parents, but after meeting Pärt, she chose to stay behind. In 1972, she entered the Russian Orthodox Church a few months before he did, and in that year, they married. “We had the same journey in the same direction; we had the feeling we must do it together,” he said. Ever since, they have formed a tight-knit unit, speaking in one voice to the outside world.

During the first years of their marriage, Nora watched her husband struggle to find his way out of his musical impasse. Pärt told me he felt that the tools he had were inadequate: “I cannot eat soup with a fork or meat with a spoon.” He was searching for a new system, one that would provide the kind of logical framework that 12-tone music offers but would allow him to express his evolving state of “small steps of tolerance to the world.” During this period of exploration, someone suggested that to escape his creative stalemate, he needed to disrupt his normal habits. To encourage that dislocation, the Pärts experimented with visual art; they would provide plain clay flowerpots to visiting friends, and they would all paint them. At the Arvo Pärt Center, there is one specimen of the composer’s handiwork, and it stands apart from the group. Other people daubed their pots with bright splotches. His is decorated with perfectly regular, muted color bands.

For several years, he studied old music, especially Gregorian plainsong. “Nothing changed in me, but I instinctively feel it has a life-giving power,” he said. “But where is this secret? Where is this secret?” He was following many different alleys, all of them blind. As Nora recalled, “We both don’t know in what direction to look — nature, forest, birds, bells. For Arvo, the seagull was important. He wanted the line of power of their flight. How do they have so much power? Maybe it is in these lines.” He drew patterns of notes that mimicked the motions of wings. That was not the answer.

“I hoped, of course, that I can find the way out, but also the hopeless was an everyday guest,” Pärt told me. “And I was full of energy. It was possible that I explode from all of this situation.” During that period, he wrote only one piece of music, the Third Symphony (1971), a transitional work. Mostly, he studied. “And maybe there was one point when I said, ‘Stop with this old music as a composer.’ Now in this place must be born something of mine — from everything that I have learned in old music, in religion, in life, and how much I was able to see my own sins and imperfections, and to repent it. To say, ‘Yes.’ And if you do, then it is like when you are on a computer, and you write a text and then you press something and it is empty. But it is a good thing. Begin from zero, from nothing. It’s like if there is a fresh snow and nobody has walked, and you take the first steps on this snow. And this is the beginning of new life.”

Pärt’s mature style was inaugurated in 1976 with a small piano piece, “Für Alina,” that remains one of his best-known works. It is governed by the compositional system that he called “tintinnabuli,” derived from the Latin word for “bells.” The tintinnabuli method pairs each note of the melody with a note that comes from a harmonizing chord, so they ring together with bell-like resonance. But the name of the method should not be taken too literally. “It’s a metaphor,” Pärt told me. His wife chimed in, “It’s poetical, and the sound of the word is musical.”

I wondered whom the piece was named for. “Alina is the daughter of our very good friend who visited us in Tallinn,” Pärt said. “And this day, as they visited us, the mother of Alina has a birthday. But Alina, the daughter, was not with her. She left the Soviet Union some years ago with her father and lived in London. And there was no connection, and it was hard for all. And then I decided to dedicate this small piano piece to Alina, like a small consolation.”

I replied that this suggested another metaphor, because the tintinnabuli style — especially in the simple form in which it exists in “Für Alina” — consists of two lines. The melody, which proceeds mainly in steps up and down the scale, might be compared to a child tentatively walking. The second line underpins each note of the melody with a note from a harmonizing triad (the fundamental chord of Western music) that is positioned as close as possible to the note of the melody, but always below. You could imagine this accompaniment to be a mother with her hands outstretched to ensure her toddler doesn’t fall.

Pärt grabbed my own hand with excitement. “This is the whole secret of tintinnabuli,” he exclaimed. “The two lines. One line is who we are, and the other line is who is holding and takes care of us. Sometimes I say — it is not a joke, but also it is as a joke taken — that the melodic line is our reality, our sins. But the other line is forgiving the sins.” Metaphors aside, the tintinnabuli style proved to be an ingenious and fertile system for generating compositions. From the late ’70s onward, after his long drought, Pärt has been an extremely productive composer.

While Pärt’s music is often categorized (although not by him) as minimalist, it avoids the monotony of some of the pieces that go by that label and too often sound as though they were stitched together by a sewing machine. This is primarily because the rules that bind the triadic to the melodic line produce unexpected outcomes; consequently, the music seems to move, even if, remaining in the home key, it never really goes very far. But it is also important that Pärt, a fanatic for detail, painstakingly adjusts each score to achieve the result he is after.

In the first tintinnabuli pieces, Pärt was not thinking about performances, and (as with medieval music) his notation was sparse. He stepped out publicly in 1977 with “Tabula Rasa.” His friend, the conductor Eri Klas, was looking for a work to accompany a performance of Alfred Schnittke’s First Concerto Grosso, which was written for two violins, harpsichord, prepared piano and string orchestra. He asked Pärt if he could deliver a piece in three months with the same orchestration. The composer complied (eliminating the harpsichord). When the new piece arrived, the orchestra players and the violin soloists, Gidon Kremer and Tatjana Grindenko, were bewildered. “We were all a bit surprised by the empty picture of the score,” Kremer told me. “It was all tonal and so transparent. There were so few notes.”

The night of the concert, the auditorium in Tallinn was full. Having had only two days of rehearsal, the musicians were filled with apprehension. “They came to the concert expecting a catastrophe, even Gidon Kremer and Tatjana Grindenko, who put all their talent on every note, especially the second part, the slow part,” Pärt said. “And it was a magnet for the orchestra, and they took over this articulation. And it was wonderful. It was so still that the people could not breathe or cough, it would disrupt. It was with me the same feeling. My heartbeat was so noisy that I thought everyone could hear.” The composer Tuur, who was still a teenager, was in the audience that night. “I was carried beyond,” he told me. “I had the feeling that eternity was touching me through this music.” In the score, Pärt wrote an exceptionally long four measures of rest at the end of the piece, but the silence went on even longer. “Nobody wanted to start clapping,” Tuur said.

When you listen to “Tabula Rasa,” the silence that is being broken is as palpable as the music being played; it is like the void that is shaped by a bowl. The two violins pierce with catlike delicacy and purpose. The piano (which is altered and amplified to produce the timbre of a bell or gong) streaks repeatedly like raindrops on a windshield and knells occasionally with a portentous clang. The chamber orchestra weaves a web of sustained notes that shimmer and glisten. If you were floating in space looking down on earth, this is what you would want in your headphones. Writing in The New Yorker eight years ago, Alex Ross reported that “Tabula Rasa” was often requested by terminally ill patients afflicted with AIDS or cancer.

It was “Tabula Rasa” that ECM’s Eicher heard, coming over the radio on a late-night drive he was making from Stuttgart to Zurich — and which so transfixed him that he pulled onto the side of the road to listen more closely. Eventually, he tracked down the name of the piece and the composer, and he contacted Pärt. Because his label up until then was devoted to jazz and improvised music, Eicher started the “New Series” to release composed works, with “Tabula Rasa” the first. Since that time, he has produced 11 more recordings devoted to Pärt’s music, always with the composer’s participation. It has been Pärt’s main avenue to international recognition.

Critics of Pärt’s work usually complain that it is ersatz and simple-minded. But unlike some so-called “holy minimalists” (like Henryk Gorecki and John Tavener) with whom he is unfairly grouped, Pärt composes by a process that is as rigorously systematic as anything propounded by Schoenberg. He is not an old-fashioned composer but a contemporary one. Without his having traveled through serial music, it is hard to imagine that he could have arrived at his method.

Much of what Pärt writes is choral music. Although his compositions are intended for concert performance and not religious service, in one regard he is medieval: his acute sensitivity to texts recalls the Gregorian chants he so admires. But here too, his mathematical brain is at work. He applies a set of principles to determine the phrasing of a piece: so that in “Passio,” a setting of the Passion according to St. John, which dates from 1982 and is one of his major accomplishments, he gives a different duration value to different syllables, depending on the syllables’ relationship to punctuation marks in the sentences. A similar operating system is used in instrumental works that are derived from texts, like the second movement of the Fourth Symphony; as the conductor Tonu Kaljuste observes, “Behind this string music is words — they pray between notes.”

Since he typically writes now in response to commissions, Pärt orchestrates his work with a detail that he didn’t apply in the early days, when his music was playing mainly in his own head — or, if it was performed, could be adapted to whatever musical forces were available. “It was music without colors,” Pärt explained to me. “Whatever instruments you had in Tallinn, you played at that time.” The more recent music also sounds freer than some of the older work. “Before, the algebra was most important,” Kaljuste says. “Now the algebra becomes more organic. The language he created has started to breathe.”

Over lunch with the Pärts, I asked if his music had become less confined by guidelines.

“The first period was very strict,” Nora said. “It was very important for Arvo to give himself a system, rules and discipline. And over time, Arvo had more and more freedom.”

“I believed in myself more and more,” he said. Then he added: “It can be good or bad. It is dangerous, this freedom.”

“Without discipline, freedom is very dangerous,” Nora said, with emphasis.

“In some way, we go back to the tintinnabuli,” Arvo resumed. “One line is like freedom, and the triad line is like discipline. It must work together.”

Back at the Pärt Center, shortly before this lunch, Pärt had described to me his attraction to early music and his exodus from the camp of contemporary 12-tone and atonal music.

“Actually, music is a very material thing,” he said. “When you play the dissonance between two strings — a very, very painful dissonance — then it is something very certain. And when you play a tune on the violin and the fifth is clean, then there is no other vibration. It’s like an oscilloscope when you see it goes flat.”

I said that when a medical oscilloscope went flat, the patient was dead.

He laughed. “This is a resurrection for purity from impurity.”

He walked to the piano in a corner of the room and crashed out some loud dissonant chords, a bedlam of black and white keys. Then he used two fingers to pick out two white keys and play an open fifth, an interval that is a fundamental musical consonance, a sound that soothes and resolves.

“We read it in our hearts and minds,” he said. “And you can choose. The composer can choose what he needs. This is very primitive explaining, but it is so. Who can say it is not so?”

Arthur Lubow is a contributing writer for the magazine. His last article was about the artist Tino Sehgal.

 

19/09/2010

Beethoven entre mito e homem: o grande mal-entendido

. artigo publicado em 02.09.2008

. . fonte : Deutsche Welle

Ele era surdo, sempre mal-humorado, sem jeito com as mulheres. Uma imagem que se encaixa quase bem demais no ideal do artista romântico: solitário, sofredor, porém genial. Até que ponto é este o Beethoven verdadeiro?

A cada qual, o seu Beethoven

A cada qual, o seu Beethoven

Primeiro, ele jogou vários livros na cabeça de um criado; em seguida, uma poltrona. De arrependimento, nem sombra. “Só assim tive sossego o dia inteiro.” E quando um príncipe opinou que em vez de três fagotes bastavam dois, ele respondeu: “Se Sua Alteza assim quer instrumentar, estou cagando”. Empregados, a nobreza, seus editores: todos ouviam dele poucas e boas. Um dos biógrafos de Beethoven o intitulou “o gênio grosseiro”.

“Van Beethoven, proprietário de cérebro”

Beethoven em 1804, retratado de Joseph Maehler

Beethoven em 1804, retratado de Joseph Maehler

A maioria das informações de que dispomos sobre Ludwig van Beethoven nos chegou através de sua correspondência e de seu diário. Ao contrário do contemporâneo Johann Wolfgang von Goethe, com quem não se dava bem, Beethoven desdenhava toda forma de auto-incensamento.

Em suas cartas, fala da maldade das pessoas e das barreiras de classe que lhe impedem o contato com as damas de seu coração. Ele não se encenava como alma nobre e superior; nem mesmo os amigos poupava do peso de seu senso crítico. Certa vez, seu irmão, que adquirira um imóvel, se assinou “Van Beethoven, proprietário de bens”. Ludwig replicou: “Van Beethoven, proprietário de cérebro”.

Ao príncipe Lichnovsky, um de seus patronos e mecenas, escreveu: “Príncipe, o que vós sois, o sois por acaso e nascimento; o que sou, sou através de mim. Príncipes houve e ainda haverá aos milhares; Beethoven, só há um.”

Beethoven para todos

As cartas de Beethoven e seu diário são como uma pedreira, da qual cada um, afinal de contas, acaba retirando aquilo de que necessita no momento. Determinadas declarações suas denotam uma atitude revolucionária; outras, uma postura elitista.

A 'Nona' no Japão: 5 mil cantores amadores entoam a 'Ode à Alegria'

A 'Nona' no Japão: 5 mil cantores amadores entoam a 'Ode à Alegria'

Este fato, acoplado a sua estética musical inovadora, levou a tentativas de recrutamento a posteriori, em parte, absurdas. A Nona sinfonia sublinhou em 1937 o aniversário de Adolf Hitler. Também a noticia da morte do ditador foi acompanhada, no rádio, pela mesma obra beethoveniana.

Porém mesmo antes, durante a República de Weimar, Beethoven já era instrumentalizado politicamente. A direita acentuava sua suposta francofobia e via nele uma “titânica natureza guerreira”. A esquerda equiparava o caráter revolucionário de sua música a seu efeito político.

Um uso que se prolongou durante a República Democrática Alemã. Após a Segunda Guerra Mundial, o compositor foi recrutado a serviço do regime comunista: Beethoven como guerreiro pela paz mundial.

Músico temperamental?

Contudo é totalmente fora de propósito procurar no próprio Beethoven metas políticas concretas. Suas declarações são díspares demais, para permitir tal coisa. Ele estava apenas preocupado com os novos caminhos da música – caminhos, aliás, que lhe traziam polpuda recompensa financeira.

Beethoven era conhecido por seu instinto para negócios. Entretanto vivia numa casa em péssimo estado, nos arredores de Viena, e pouco ligava para a própria aparência. Para seus contemporâneos, devia parecer absolutamente anticonvencional.

Ele permaneceu solteiro, vivendo para sua música: de manhã, compor; ao meio-dia, comer bem; à tarde, passear. Na percepção de muitos, ficou gravada até hoje a imagem do artista excepcional, porém difícil do ponto de vista humano. Ela é reforçada pelas centenas de quadros e bustos de um homem sisudo, de cabelos em alvoroço e olhar penetrante.

Contudo, muitas vezes a posteridade esquece até que ponto essa rispidez se devia à grande tragédia da vida de Beethoven: sua surdez.

Deficiência torturante

O aparelho de surdez do compositor

O aparelho de surdez do compositor

Ludwig van Beethoven tem pouco mais de 30 anos quando fica óbvia a impossibilidade de esconder sua progressiva deficiência auditiva. Um músico surdo?

“Meus ouvidos ribombam dia e noite sem parar”, escreve. O compositor pensa em suicídio, se afasta dos outros seres humanos. Chega a redigir uma carta de despedida, que, no entanto, não envia. Nela se encontra uma das mais conhecidas frases de Beethoven sobre si mesmo:

“Oh homens, que me considerais hostil, intratável e misantropo, que injustiça cometeis comigo.”

Ramón Garcia-Ziemsen (av)

• • • •

03/09/2010

Festival de Bayreuth aponta para nova fase, mais compatível com a mídia

. artigo publicado em 30.08.2010
. . fonte : Deutsche Welle
* * *

O 99º Festival Richard Wagner foi o segundo realizado pelas bisnetas do compositor. Aos poucos, é possível reconhecer em que direção se desenvolve o mais renomado festival de ópera.

Local do festival em Bayreuth

Local do festival em Bayreuth

Iniciado em 25 de julho passado com uma encenação altamente aclamada de Lohengrin, o tradicional festival se encerrou em 28 de agosto com Os Mestres Cantores de Nurembergue.

A montagem foi dedicada a Christoph Schlingensief, o provocador diretor de teatro que em 2004 encenou Parsifal em Bayreuth e morreu de câncer no pulmão em 21 de agosto passado. Na época, a produção de Schlingensief chocou os fãs de Wagner; hoje o impulso que o diretor recém-falecido deu ao festival é considerado importante.

Há 134 anos, o compositor Richard Wagner criou o Festival de Bayreuth. Até hoje, o evento se dedica exclusivamente à sua obra, que inclui dez óperas. Isso já justifica por que a tradição desempenha um papel tão especial em Bayreuth.

No entanto, já podem se notar algumas alterações cautelosas depois que o festival deixou de ser dirigido por Wolfgang Wagner, responsável pelo evento durante anos e falecido em março deste ano. De maneira geral, suas duas filhas e sucessoras – Eva Wagner-Pasquier e Katharina Wagner – dão a impressão de serem abertas e competentes.

Eva Wagner-Pasquier e Katharina Wagner

Eva Wagner-Pasquier e Katharina Wagner

Apesar de todas as mudanças, o princípio básico do festival se mantém, segundo explica Eva Wagner-Pasquier: “Algo que certamente não vai acontecer é a inclusão de outro compositor. Evidentemente vamos nos ater às determinações da fundação, do teatro e da concepção original”.

Wagner de graça e com cerveja

Em 2010, a direção do festival manteve sua estratégia de marketing, possibilitando a transmissão ao vivo das encenações em lugares públicos e pela internet. Em 21 de agosto passado, pelo menos 20 mil pessoas se reuniram no Marktplatz de Bayreuth para assistir à transmissão gratuita de As Valquírias.

De acordo com uma enquete, 70% dos espectadores nunca haviam assistido a uma ópera de Wagner. Em um clima descontraído, o público pôde compartilhar da experiência operística legendada, bebendo cerveja e comendo salsicha. O espetáculo também foi transmitido ao vivo pela internet e pela televisão japonesa.

Algo que também já se estabeleceu como parte integrante do festival é o projeto Wagner para Crianças. Sua segunda edição apresentou uma versão de Tannhäuserdirecionada ao público infantil, com 70 minutos de duração. Crianças entre 6 e 12 anos acompanharam a montagem com toda atenção. A personagem predileta dos espectadores foi a deusa do amor Vênus, andando de skate em um visual punk.

Grande atenção para o elenco

No início da temporada 2010, anunciou-se que uma comissão independente teria acesso irrestrito aos arquivos do teatro, a fim de investigar o papel do festival durante o nazismo.

Quanto ao elenco das peças, as duas bisnetas de Wagner conseguiram contratar cantores melhores nesta segunda edição que dirigiram. Algumas das estreias mais aclamadas foram a de Jonas Kaufmann como Lohengrin, James Rutherford no papel de Hans Sachs, Johan Botha como Siegmund e Lance Ryan como Siegfried. Este último, um tenor canadense, é considerado insuperável nesse papel.

 

Lance Ryan como Siegfried

Lance Ryan como Siegfried

No próximo ano, a 100ª edição do Festival Richard Wagner vai apresentar uma nova encenação de Tannhäuser, sob direção de Sebastian Baumgarten e regência de Thomas Hengelbrock.

Em 2013, ano em que se comemora o 200º aniversário do compositor, haverá uma nova encenação do Anel do Nibelungo. O diretor ainda não foi definido, mas já se sabe que o russo Kirill Petrenko será o regente.

Ao mesmo tempo, planejam-se pela primeira vez em Bayreuth montagens de três óperas compostas por Wagner enquanto jovem: As FadasAmor ProibidoRienzi.

Autor: Rick Fulker (sl)
Revisão: Roselaine Wandscheer

* * * *

01/09/2010

Artigo : Ensaio de orquestra

. artigo sobre o Ensaio da Orquestra Filarmônica de Berlim no festival de Salzburg, Áustria

* * *

Ensaio de orquestra

Estado acompanhou com exclusividade trabalho do maestro Simon Rattle com a Filarmônica de Berlim

31 de agosto de 2010 | 0h 00

João Luiz Sampaio / SALZBURG – O Estado de S.Paulo

Caos sonoro sobre o palco da Grande Sala do Festival na manhã de domingo. Pouco antes das dez horas, instrumentos são afinados, músicos conversam, riem alto, arrastam cadeiras. Não dão muita atenção ao inspetor que, na frente da orquestra, chega para avisar que o ensaio não contará com a solista, a soprano Karitta Mattila e, que portanto, apenas as demais peças serão repassadas. Mais barulho, brincadeiras, partituras sendo procuradas nas mochilas. Até que do canto do palco surge a figura discreta, de roupa toda preta, em contraste com a longa cabeleira branca. Partituras na mão, sobe no pódio. Feito o silêncio, anuncia, suavemente: “Schoenberg, por favor.”

A orquestra é a Filarmônica de Berlim e a figura à sua frente, o maestro inglês Simon Rattle, diretor do grupo, para muitos o melhor conjunto sinfônico do mundo, rivalizado apenas pelos filarmônicos de Viena. Encarregados do concerto de encerramento desta edição do festival, tocariam naquela noite um programa ambicioso: além das Quatro Últimas Canções de Strauss, três pilares da música do século 20: as Seis Pecas para Orquestra, de Schoenberg; as Cinco Pecas para Orquestra, de Alban Berg; e as Três Pecas para Orquestra, de Anton Webern.

Se há uma genealogia da música contemporânea, no topo da árvore, diz Rattle, devem estar estas peças, escritas antes dos anos 20. Ainda hoje soam revolucionárias. E Rattle, em um misto de alemão e inglês, pede à orquestra que esteja atenta a detalhes. “Mais vibrato nas cordas, especialmente vocês, violoncelos”, diz. Puxa o spalla de lado e corrige a articulação das cordas. “Ta, ta, ta, ra, ta, ta, ta. Se não for assim, vocês não vão dar conta de acompanhar os metais, simples assim. Eles são o modelo aqui.” Rattle parece trabalhar em especial a arquitetura sonora. Corrige os sopros, batendo com a batuta na estante. “Um, dois, três. Precisão aqui é fundamental, marquem as notas. Evitem essa diminuição de andamentos, senão cada um vai chegar no final em momentos diferentes. A essência está aqui.” Volta às cordas. “O desafio, para vocês, é justamente o contrário. O esboço de melodia aqui não pode estar tão evidente. Apenas insinuem uma atmosfera etérea. Como ondas – o movimento é perceptível, mas o que leva a ele não precisa ser mostrado.”

Silêncio ensurdecedor. Mais interessante que ver Rattle construindo a interpretação, passagem a passagem (“ensaio bom e difícil”, comenta um músico depois), é perceber a reação da orquestra a suas orientações. Na obra de Alban Berg, encasqueta com o andamento em determinada passagem. “De novo”, pede simplesmente. “Vocês sabem.” E o som que surge em seguida articula toda a orquestra em um todo orgânico, brilhante. Sim, eles sabem. E como.

Chegamos então à peça de Anton Webern, seis rápidos movimentos que mobilizam um enorme efetivo orquestral. A percussão explode em um caos sonoro… uma, duas, três vezes. Rattle interrompe a orquestra calmamente. Há um caminho a ser construído aqui, diz. “Esqueçam a música por um instante. E se perguntem: para que serve a pausa que vem logo em seguida? Ele fala baixo, não desvia o rosto um só instante da centena de instrumentistas da filarmônica. “Atenção à dinâmica. O que exatamente estamos construindo aqui? Não é música, é silêncio. Mais um estouro da percussão. “Ainda não. A questão é a seguinte. Depois da música, vem o silêncio. Mas este silêncio precisa ser ensurdecedor. Barulhento.” Rattle termina o ensaio assim, regendo o silêncio. “Obrigado”, diz; cumprimenta o spalla. E deixa o palco rapidamente.

INTERVALO

Shakespeare musical

Depois de intensa negociação,

o diretor artístico da edição do ano que vem do Festival,

Markus Hinterhäuser, fechou com o maestro Riccardo Muti a ópera que ele vai apresentar em Salzburg no ano que vem: será o Macbeth de Verdi.

Hinterhäuser garante que vai aproveitar o gancho para apresentar pela cidade outras obras musicais inspiradas na peça de Shakespeare.

Disco novo

A violinista americana Hillary Hahn aproveitou a passagem por Salzburg, onde tocou com a Sinfônica Jovem Gustav Mahler o concerto de Brahms, para apresentar seu novo disco, com o concerto para violino e orquestra de Tchaikovski, que chega às lojas no próximo mês.

Realeza do canto

Foi um italiano que se destacou no concerto da Orquestra Real de Amsterdã: o veterano baixo Ferruccio Furlanetto, que interpretou as Canções de Dança e Morte do russo Mussorgsky.

fonte :

O Estado de São Paulo

04/08/2010

Prélude à l’après-midi d’un faune

Filed under: artigo, compositores, Debussy, escuta, século XX, textos, vídeo — Tags:, , — histmus @ 18:27

Extraído da Wikipedia em inglês

fonte : wikipedia

Prelude to “The Afternoon of a Faun” (commonly known by its French title, Prélude à l’après-midi d’un faune, is a Symphonic poem for orchestra by Claude Debussy, approximately 10 minutes in duration. It was first performed in Paris on December 22, 1894 conducted by Gustave Doret.[1][2]

Inspiration and influence

The composition was inspired by the poem L’Après-midi d’un faune by Stéphane Mallarmé, and later formed the basis for a ballet choreographed by Vaslav Nijinsky. It is one of Debussy’s most famous works and is considered a turning point in the history of music; composer-conductor Pierre Boulez even dates the awakening of modern music from this score, observing that “the flute of the faun brought new breath to the art of music.”[3] It is a work that barely grasps onto tonality and harmonic function.

About his composition Debussy wrote:

“ The music of this prelude is a very free illustration of Mallarmé’s beautiful poem. By no means does it claim to be a synthesis of it. Rather there is a succession of scenes through which pass the desires and dreams of the faun in the heat of the afternoon. Then, tired of pursuing the timorous flight of nymphs and naiads, he succumbs to intoxicating sleep, in which he can finally realize his dreams of possession in universal Nature.[4] ”

Paul Valéry reported that Mallarmé himself was unhappy with his poem being used as the basis of music: “He believed that his own music was sufficient, and that even with the best intentions in the world, it was a veritable crime as far as poetry was concerned to juxtapose poetry and music, even if it were the finest music there is.”[5]

The opening flute solo is one the most famous passages in musical modernism,[citation needed] consisting of a chromatic descent to a tritone below the original pitch, and the subsequent ascent.

Composition

The work is scored for three flutes, two oboes, cor anglais, two clarinets, two bassoons, four horns, two harps, two crotales and strings.

Although it is tempting to call this piece a tone poem, there is very little musical literalism in the piece; instead, the languorous melody and shimmering orchestration as a whole evoke the eroticism of Mallarmé’s poem.

“ [This prelude] was [Debussy’s] musical response to the poem of Stephane Mallarmé’ (1842-1898), in which a faun playing his pan-pipes alone in the woods becomes aroused by passing nymphs and naiads, pursues them unsuccessfully, then wearily abandons himself to a sleep filled with visions. Though called a “prelude,” the work is nevertheless complete – an evocation of the feelings of the poem as a whole.[6] ”

The work is called a prelude because Debussy intended to write a suite of three movements – Prelude, Interlude, and Final Paraphrase – but the latter two were never composed.

The Prélude at first listening seems improvisational and almost free-form; however, closer observation will demonstrate that the piece consists of a complex organization of musical cells, motifs carefully developed and traded between members of the orchestra. A close analysis of the piece yields a deep appreciation of the ultimate compositional economy of Debussy’s craft.

The main musical themes are introduced by woodwinds, with delicate but harmonically advanced underpinnings of muted horns, strings and harp. Recurring tools in Debussy’s compositional arsenal make appearances in this piece: Bracing whole-tone scale runs, harmonic fluidity without lengthy modulations between central keys, tritones in both melody and harmony. The development of the slow main theme moves fluidly between 9/8, 6/8 and 12/8 meters. Debussy explores voicings and shading in his orchestration brilliantly, allowing the main melodic cell to move from solo flute to oboe, back to solo flute, then two unison flutes (yielding a completely different atmosphere to the melody), then clarinet, etc. Even the accompaniment explores alternate voicings; the flute duo’s soaring, exotic melodic cells ride lush rolling strings with violas carrying the soprano part over alto violins (the tone of a viola in its upper register being especially sumptuous). And, in the first minute of the piece, Debussy mischievously throws in a bar of complete silence, giving the listener the opportunity to explore the musical quality of negative space within a gentle flowing river of sound[citation needed].

In popular culture

It was rearranged and recorded by Jazz musician Eumir Deodato for his 1973 album Prelude.

Prelude to the Afternoon of a Faun is the first animated segment in Italian director and animator Bruno Bozzetto’s 1977 film Allegro non troppo. While retaining Debussy’s music, the on-screen story instead depicts an aging faun’s vain attempts to recapture his youth.

The theme features prominently in the 1949 film Portrait of Jennie, and is used as a musical motif for the etherial heroine played by Jennifer Jones.

The work is also analyzed at the end of the 4th segment of Leonard Bernstein’s 1973 Norton lecture “The Unanswered Question”. Bernstein corroborates the earlier statement that the piece stretches the limits of tonality, thus setting up the atonal works of the 20th century to come.

Pop star Michael Jackson named the piece his “favorite song”.

Sources

“Pierre Meylan and Chris Walton. “Doret, Gustave.””. Oxford. Retrieved 2009-05-25.

Fanning, Neil Cardew (2005). All music guide to classical music: the definitive guide to classical music. New York: Hal Leonard. p. 351.

Boulez, Pierre (1958), “Entries for a Musical Encyclopaedia: Claude Debussy”, Stocktakings from an Apprenticeship, Oxford: Oxford University Press (published 1991), pp. 259–277, ISBN 0193112108

Original French: “La musique de ce prélude est une illustration très libre du beau poème de Mallarmé; elle ne prétend pas en être une synthèse. Il s’agit plutôt de fonds successifs sur lesquels se meuvent les désirs et les rêves du faune dans la chaleur de cet après-midi. Enfin, las de poursuivre les nymphes et les naïades apeurées dans leur fuite, il s’abandonne à un sommeil enivrant, riche de songes enfin réalisés, de pleine possession dans l’universelle nature.” Quoted in Les poètes symbolistes et la musique: de Verlaine à Blok by Hélène Desgraupes.

Valéry, Paul (1933), “Stephane Mallarmé”, Leonardo Poe Mallarmé, trans. James R. Lawler, London: Routledge & Kegan Paul (published 1972), p. 263, ISBN 0710071485

Burkhart, Charles. 2004. Anthology for Musical Analysis, Sixth Edition. p. 402.

Hendrik Lücke: Mallarmé – Debussy. Eine vergleichende Studie zur Kunstanschauung am Beispiel von „L’Après-midi d’un Faune“. (Studien zur Musikwissenschaft, Bd. 4). Dr. Kovac, Hamburg 2005, ISBN 3-8300-1685-9.

outras fontes de estudo

Wikipedia em português, resumido

Wikipedia em francês, resumido

Notas do programa em inglês

Video do ballet

20/05/2010

Beethoven: criado de muitos patrões?

. artigo publicado em 20.09.2008

. . fonte : Deutsche Welle

 

Qual era a relação entre Beethoven e os nobres? Financeiramente dependente deles, o músico sonhava com liberdade e revolução. Uma história de desilusões e ambivalências.

Monumento ao compositor em Viena

Monumento ao compositor em Viena

O Beethovenfest 2008, sob o slogan “Poder.Música”, questiona o papel desempenhado pela música em tempos sem liberdade, e como os poderosos se servem dela. E convida a mais uma pergunta: qual era a relação do próprio compositor com a nobreza? Dividido entre sustento e desapontamento, ele criou obras até hoje representativas da idéia de revolução. Mas terá ele sido criado de patrões demais?

Prometeu

Ainda em vida, a obra de Ludwig van Beethoven o elevou à categoria de mito. Ele se tornou o modelo do artista romântico, assim como do desejo de se libertar tanto de formas musicais como de concepções obsoletas do mundo.

O mestre de Bonn se tornou uma figura de identificação musical numa fase de reviravolta política, da era aristocrática para a burguesa. Ao escrever música para o balé As criaturas de Prometeu, Beethoven já se dedicava em 1801 a um tema altamente atual.

O semideus da mitologia grega Prometeu, portador da luz e patrono da humanidade, era o símbolo do Iluminismo e personificação mítica da revolução. Napoleão Bonaparte era considerado o “Prometeu moderno”.

Entre dependência e desprezo

Beethoven e Goethe encontram a família imperial em 1812

Beethoven e Goethe encontram a família imperial em 1812

Durante toda a vida, o músico alemão esteve dividido entre servir e desprezar a nobreza, entre o anseio pela revolução e a resignação. Sua atitude perante os poderosos foi sempre ambivalente. Entre esperança na nobreza e desilusão em relação a ela, oscilou todo o trajeto da vida de Beethoven.

Nascido em 1770, filho de um tenor da corte do príncipe eleitor, o menino-prodígio já era exibido à aristocracia aos 8 anos de idade. Aos 19, protestava pela primeira vez: o piano da corte era ruim, impossível tocar nele, afirmava. Era o ano da Revolução Francesa.

Porém a vida de um instrumentista e compositor era, na época, subordinada à corte e à Igreja. A convite do veterano Joseph Haydn, o jovem vai estudar em Viena. E resolve permanecer na cidade imperial, embora o príncipe eleitor de Bonn jamais o haja liberado oficialmente dos serviços de sua corte.

E Beethoven se tornou o queridinho da nobreza vienense. Graças a ela, foi um dos primeiros músicos verdadeiramente autônomos, independentes de postos na corte ou eclesiásticos. O Barão van Swieten, os príncipes Liechnowsky, Lobkowitz e Kinsky lhe pagavam respeitáveis benefícios anuais e pensões vitalícias. Beethoven foi ainda professor de piano do arquiduque Rudolf, para quem escreveu o Concerto triplo em dó maior opus 56, para violino, violoncelo, piano e orquestra.

Em torno de Napoleão

Embora quase exclusivamente financiado pelos nobres, Beethoven era extremamente desrespeitoso com eles. Considerando-se um cidadão livre, tachava seus mecenas de “ralé aristocrática” e os tratava de forma coerente com essa opinião.

Em Viena, era notório o entusiasmo do compositor pelas idéias liberais e pelo inimigo público número um, Napoleão. E no entanto, Beethoven escapou à censura e à polícia secreta austríaca. Em liberdade quase absoluta, até mesmo compôs em 1803 uma homenagem sinfônica a Napoleão: a Sinfonia nº 3, opus 55 (Heróica).

Montagem de 'Fidelio' na Ópera de Leipzig, 2005

Montagem de 'Fidelio' na Ópera de Leipzig, 2005

Apesar de fanático pela liberdade, o músico estava longe de ser um observador arguto da situação política. A virada de Napoleão, de herói revolucionário para absolutista, o consternou. Ao saber que o general francês se fizera coroar imperador, Beethoven rasgou a homenagem original da Heróica e dedicou a sinfonia a seu mecenas príncipe Lobkowitz, um nome representativo do Ancien Régime.

No ápice da fase antinapoleônica, o compositor escreveu em 1813 uma peça de guerra. Com A vitória de Wellington ou a Batalha de Vitoria, Beethoven se torna de um só golpe popular também entre a burguesia vienense. O elaborado espetáculo bélico-musical descreve em sons a derrota das tropas francesas pelo marechal inglês Arthur Wellesley, duque de Wellington, na cidade de Vitoria, no norte espanhol. Era o início da derrocada de Napoleão.

Fidelio

“Nada além de tambores, canhões, miséria humana de toda sorte”, exclamou Beethoven por ocasião da investida militar contra Viena, em 1809. Ele era um pacifista decidido, como fica claro em sua representação sonora de batalhas.

O músico reagiu ao Congresso de Viena de 1815, que definiria a nova ordem política na Europa, com a monumental cantata Der glorreiche Augenblick (O glorioso momento). Para ele, tudo o que contava era a vitória sobre Napoleão, o rebaixamento da França e a esperança na segurança e na liberdade reconquistadas.

Já em 1805, Beethoven denunciara a tirania e a ditadura em sua única ópera, Fidelio(de início intitulada Leonore). Entre os alvos desta crítica, estavam sem dúvida os invasores franceses de Viena.

Ode à Alegria

Frontispício da partitura da 'Nona sinfonia'

Frontispício da partitura da 'Nona sinfonia'

Desde a ditadura napoleônica, Beethoven não mais acreditava que rebelião corajosa e revoluções pudessem reverter hierarquias e depor tiranias. Quase todas as suas obras foram dedicadas a patronos nobres, quem quer que fossem.

Durante a vida inteira, ele serviu aos poderosos, vendendo-lhes sua música. E ao mesmo tempo sonhava com a independência em relação a eles. No fim da vida, realizou este sonho na Nona sinfonia, integrando nela a Ode à Alegria de Friedrich Schiller.

Um monumento humanista feito de sons, embora o dedicando da sinfonia seja o rei Frederico 3º da Prússia. Em 1824 a Nona sinfonia é estreada. Três anos mais tarde, morre Ludwig van Beethoven.

Dieter David Scholz (av)

• • • •

06/04/2010

artigo : Arte e Vida

Filed under: artigo, Intérpretes, Maria João Pires, textos — Tags: — histmus @ 8:52

. artigo publicado em 04.04.2010

. . autor : João Luiz Sampaio

. . . fonte : O Estado de S.Paulo

. . . . leia também : O sorriso de Maria João

 

Uma das maiores pianistas da atualidade, Maria João Pires, que se apresenta amanhã em São Paulo, fala da mudança para a Bahia, do desejo de se aposentar e critica o mercado musical

Seu sorriso é como música. Encanta e desconcerta com a mesma facilidade – e, no melhor espírito da grande arte, nos leva a implodir certezas. Até pouco tempo, ela era a grande pianista portuguesa Maria João Pires, uma das mais requisitadas e aplaudidas intérpretes do cenário internacional, tinha contrato de exclusividade com o poderoso selo alemão Deutsche Grammophon e uma agenda intensa de concertos. Nos últimos anos, porém, abriu mão da cidadania da terra natal e pediu a nacionalidade brasileira; trocou a Europa pelo clima do Nordeste; rompeu seu contrato de gravações. E não esconde, nem mede palavras. “Estou cansada. Não quero mais viajar o mundo tocando. O comércio da música nada tem a ver com a arte”, diz. E sorri uma vez mais.

Maria, que se apresenta amanhã na Sala São Paulo, recebe a reportagem do Estado na varanda da casa em Lauro de Freitas, município vizinho a Salvador. “Confesso que não tenho uma relação especial com a cidade, não mais do que com qualquer outra cidade brasileira. Acho que não gostaria de morar em Salvador, mas também é verdade que não gostaria de morar em cidade alguma. Mas conheci Lauro de Freitas a convite de amigos, passando férias, e, há seis anos, resolvi comprar esta casa”, conta. “Foi apenas mais tarde, no fim de 2008, que resolvi me mudar de vez para cá. Não foi uma decisão que tomei. Na vida as coisas acontecem, se misturam e, quando nós vemos, há um caminho a ser seguido.”

É preciso, aqui, voltar um pouco no tempo. No fim da década de 90, Maria João Pires criou em Belgais, Portugal, um centro musical destinado a colocar em prática suas visões sobre o fazer artístico. Em uma casa de fazenda pertencente à família, reuniu, de um lado, alunos de música; de outro, criou uma escola primária, com o objetivo de experimentar um sistema de educação artística. Em Belgais, jovens músicos dedicavam-se tanto ao estudo de um instrumento quanto ao trabalho com a terra e o cultivo de alimentos. A ideia, explica, é entender a música como parte da vida em comunidade, como forma de diálogo.

Em 2006, no entanto, o projeto fechou as portas. “Não foi uma questão financeira, eu investi tudo o que tinha ali e o governo português ajudava, com pouco, mas ajudava. As inimizades, as tentativas de denegrir o que estávamos fazendo, tudo isso foi destruindo o projeto aos poucos.” No mesmo ano, Maria João teve problemas no coração. “Minha saúde estava sendo comprometida e resolvi parar. Hoje, minha filha mais velha toma conta da casa. Eu quero vender a propriedade, mas é difícil. Ela é grande demais para uma família, pequena demais para um hotel.”

Diálogo. Se Belgais deixou de existir, o espírito do projeto segue vivo. Tudo o que aconteceu só a fez ter mais certeza do desejo de diminuir o ritmo. “A carreira para mim sempre foi um peso. Nunca procurei isso. Foi a vida que levei, aceitei essa realidade. Tentei parar outras vezes, mas não consegui, por questões familiares, financeiras. Minha relação pessoal com a música não tem nada de comercial. A arte é um meio de expressão e de diálogo. A música tem um lado sublime que nos ajuda a entender e ultrapassar nossas limitações, em especial a nossa dificuldade de encontrar harmonia. Não quero entrar em grandes sonhos, mas acredito que a música pode ajudar as crianças que vão construir o mundo de amanhã.”

É por isso, diz, que sonha com um projeto parecido no Brasil. Ela confirma a possibilidade de instalá-lo em Sergipe. “As coisas estão se arrastando um pouco, mas não é culpa de ninguém. Tenho precisado trabalhar muito, minha saúde não andou boa. Meu sonho é estabelecer as bases de um projeto nacional, barato, que possa se espalhar rapidamente.” E quais seriam essas bases? “A ausência de rigidez, de uma introdução intelectualizada à arte. Há gente que seduz o aluno, para que ele toque e seduza o público, impressione o pai, a professora. A arte assim perde a força, não transforma.”

Na cartilha de Maria João, no entanto, ausência de rigidez não significa falta de disciplina. “A criança precisa entender o que está fazendo, um coral infantil não pode cantar desafinado. É só quando ele tiver um bom desempenho que seus integrantes vão entender o significado do trabalho, entender que superaram as dificuldades e levar esse aprendizado para a vida. A disciplina é o princípio da liberdade. Temos de aceitar nossos limites. A gente nasce e morre, não pode voar, os limites estão aí. Mas, dentro deles, há espaço para a transformação. A música não precisa ser uma finalidade, mas um caminho. O importante não é formar grandes músicos e sim seres humanos que entendam como a arte pode ajudar.”

E como isso acontece? “Fazer música é sentir-se parte de alguma coisa, de uma comunidade, é reencontrar valores perdidos. Seria ingenuidade achar que a arte resolve tudo, mas, em meio a tantos problemas que assolam crianças carentes, elas acabam perdendo também a capacidade de sonhar. Fazer música é recuperar esse universo perdido, encontrar a si mesmo e ao outro. Estar junto é aceitar a diferença – e por isso não concordo com o estudo solitário. Ele leva à solidão e isso é para mim uma temeridade.”

Jardim. Sentada na varanda de casa, Maria João nada parece a pianista reclusa, avessa a entrevistas, famosa por cancelar encontros com jornalistas. “Quando comprei a casa, havia uma piscina em frente desta varanda. Você já percebeu como as pessoas têm mania de derrubar plantas e colocar concreto em tudo?”, ela pergunta. “A primeira coisa que fiz foi fechar a piscina com terra e plantar meu jardim. Você já pensou no gasto que se tem com a manutenção, aqueles produtos caros e poluentes? E eu não preciso de uma vista. Gosto de plantas, só preciso de um quarto e um jardim.” O cachorro Jota faz pose para o fotógrafo e ela se diverte. “É um teckel de pelo duro, trouxe da Espanha. É uma raça caçadora, engraçada. Se bem que ele tem personalidade, não é nada bonzinho, olha a carinha!”

Skates e pranchas de surfe entregam a presença de adolescentes na casa. E logo Claudio, que Maria João adotou há 15 anos na Bahia, se junta à mãe. “Tem também o Lucas e as minhas filhas, que moram na Europa.” Para ela, a vida em família é fundamental. “É o princípio da minha vida, sempre foi. Viajo, trabalho, mas corro para casa. Cozinho para as crianças, mas não é algo que me apaixone, prefiro fazer faxina. Mesmo com as meninas, que estão mais velhas, quando estamos juntas, lá vou eu cozinhar, passar roupa.”

Seu grande sonho é ter “uma fazendinha”, com uma casa “e uma horta”. Até lá, investe tempo no projeto educacional. “Quase me mudei para Aracaju, mas não encontrei uma casa com um jardim. E as que vi ficam em condomínios fechados, com muros, cercas, seguranças. Não gosto disso. Como mãe, claro, me preocupo, mas acho que não se resolve problema de segurança reforçando a separação entre duas sociedades que, no fundo, são formadas por pessoas iguais. Já há divisão demais no mundo.”

QUEM É

MARIA JOÃO PIRES
PIANISTA

CV: Nascida em julho de 1944 em Lisboa, Portugal, Maria João Pires deu seu primeiro recital aos 5 anos de idade e, em seguida, completou os estudos na Alemanha. Mozart, Schubert e Beethoven são os pilares de seu repertório. Ganhou nacionalidade brasileira em 2009.

 

04/03/2010

Com Chopin, em busca da voz do piano que canta

. artigo publicado em 27.02.2010

. . fonte : jornal O Estado de São Paulo

. . . escrito pelo pianista Nelson Freire

* * *

No bicentenário do compositor, suas obras permanecem como emblemas da expressividade do instrumento

27 de fevereiro de 2010 | 0h 00
Nelson Freire – O Estadao de S.Paulo

Como definir o que faz da música de Frederic Chopin (1810- 1849), celebrada este ano por conta de seu bicentenário de nascimento, um universo tão especial? O grande pianista Arthur Rubinstein disse certa vez que, ao interpretar suas obras, tinha a sensação de que ela tocava diretamente o coração das pessoas. E é fascinante perceber que isso vale tanto para leigos quanto para melômanos. E, por que não, para os próprios pianistas, para quem suas peças são um desafio constante. A brasileira Guiomar Novaes costumava dizer, divertida, que Chopin exige tudo do intérprete, “que precisa tocá-lo com cabeça, coração, com o pé, com a mão, com tudo”. Já Martha Argerich me confessou, em uma de nossas muitas conversas sobre sua música, que acha Chopin o autor mais difícil de tocar. “Os pianistas erram nele mais do que com a obra de qualquer outro compositor.”

Desde criança mantenho relação estreita com essa música. Mas eu me lembro, aos 14 anos, do impacto provocado pela leitura da Guiomar para o Concerto nº 2 para Piano e Orquestra. Foi paixão à primeira audição. Bastava ouvir os dois primeiros compassos do segundo movimento para perceber como essa música era incrível – e como a sua leitura a reinventava, forçando a própria orquestra, comandada por Otto Klemperer, a uma leitura diferente do que estávamos acostumados. Comecei a colecionar gravações ao vivo desse concerto com Guiomar. E, desde então, ele tem um lugar especial na minha vida e na minha carreira. Gosto muito do primeiro concerto também, do qual a Martha fez uma excelente gravação com o maestro Claudio Abbado, mas o segundo, que foi o primeiro a ser escrito, ainda hoje me parece mais misterioso, tocante, com a emoção à flor da pele.

Mistério, expressividade, emoção e até um pouco de exotismo – tudo isso ajuda a explicar a genialidade de Chopin, ainda que não dê conta por completo da tarefa. E não podemos esquecer das pequenas revoluções de sua escrita. O último movimento da Sonata da Marcha Fúnebre é fascinante, maluco até, imagino o escândalo que deve ter sido para a época. E isso já vem desde as primeiras obras. Schumann ficou doido com as Variações Op. 2 sobre um tema de Don Giovanni. Sua música está repleta de harmonias e invenções que só vamos encontrar bem mais tarde, em Maurice Ravel, por exemplo, como no caso dos acordes dissonantes no fim do Scherzo nº 1. Não gosto de comparações. Mas há uma passagem no primeiro do Liszt, segundo movimento, parecida com o recitativo do segundo movimento do Concerto nº 2 de Chopin – no entanto, fica a sensação de que Chopin vai mais fundo em busca da expressividade, com resultados impressionantes.

Isso sem falar nos Noturnos. Ao longo da gravação, em dezembro, dos vinte noturnos de Chopin para a Decca voltei a me encantar com a riqueza de mundos que essas peças sugerem. Drama, poesia, sedução, cada um dos noturnos oferece um universo. E o interessante é justamente essa possibilidade de transitar de um mundo ao outro. E enfrentar o desafio de fazer o piano cantar. Outro dia vi uma entrevista de Vladimir Horowitz para a televisão italiana na qual ele dizia que o mais difícil no piano é fazê-lo cantar. Chopin entendeu isso. E o canto em sua música é fundamental, você enxerga os ecos das óperas do bel canto, de Donizetti e Bellini.

O trabalho com a música de Chopin dura a vida inteira, uma eterna descoberta. É um prazer incrível estudá-lo, é tudo tão bem escrito, o legato, o cantabile. E de certa forma ele exige do intérprete uma especialização. É preciso se entregar a ele. Aí sim o resultado fica digno de sua criação. Acho fascinante, por exemplo, o equilíbrio necessário entre liberdade e disciplina. Gosto da definição de Liszt: para ele, o rubato em Chopin era como uma árvore – as folhas sacodem ao favor do vento, mas o tronco está ali, constante. Às vezes me perguntam em entrevistas se eu gostaria de tocar outro instrumento. E eu me pego pensando que não – pois sem o piano, eu não teria a música de Chopin.

Nelson Freire é pianista. Em 10 de março, lança álbum dedicado aos Noturnos (Decca) e no dia 13, abre na Sala São Paulo a temporada comemorativa da Sociedade Chopin do Brasil, interpretando o Concerto nº 2

* * * *

03/03/2010

200 anos de Chopin comemorados com gravações de Martha Argerich

. artigo publicado em 28.02.2010

. . fonte : Deutsche Welle

* * *

O bicentenário do compositor romântico polonês é ensejo para um lançamento histórico: as primeiras gravações da pianista argentina em emissoras radiofônicas alemãs. Registro de uma paixão pianística duradoura.

Não foi apenas o público de Berlim Ocidental que caiu de amores pela pianista argentina em 1967, seu débutna metrópole dividida. Também o jornal Berliner Zeitungaclamou a “beleza de rosto inteligente”, com “juba à la Juliette Gréco”, que no palco se revelava uma “tigresa das teclas”.

E o papa da crítica musical alemã Joachim Kaiser atestou que, já na época, ela era tão boa “como apenas uma dúzia contada de pianistas, em todo o mundo”. Entre os compositores, a jovem Martha Argerich manifestava uma preferência declarada: Frédéric Chopin.

Virtuose precoce

A carreira de Argerich, nascida em Buenos Aires em 1941, começou muito cedo: já aos oito anos de idade ela estreava em público. A partir de meados da década de 1950, a adolescente conquistou a Europa, arrebatando, um atrás do outro, os primeiros lugares dos concursos de piano de que participava.

Essa trajetória brilhante culminou em 1965 com o prêmio do Concurso Chopin, em Varsóvia. Imediatamente as companhias fonográficas iniciaram uma corrida pelo contrato de exclusividade com essa excepcional pianista de 24 anos. A disputa foi decidida a favor da alemã Deutsche Grammophon.

Contudo os registros históricos lançados por ocasião dos 200 anos do nascimento de Frédéric Chopin não provêm dos arquivos da gravadora, mas sim de duas emissoras de rádio e televisão: a WDR e, em especial, a antiga RIAS, de Berlim. É controvertido o dia exato em que o músico nasceu na localidade polonesa de Zelazowa Wola: se 22 de fevereiro, como consta de sua certidão, ou 1º de março de 1810, data que menciona em cartas à mãe.

Raridades

Desde o início de sua carreira, a pianista privilegiou o repertório romântico, no qual a obra de Frédéric Chopin ocupa posto central. Numa entrevista concedida em 1967, Argerich analisava: “Quando se toca Chopin, tudo é virtuosismo. Tudo, mesmo os menores prelúdios, são virtuosísticos. Mas não acho Chopin exibicionista: ele é antes sutil. Pianisticamente, tudo dele é muito mais difícil do que Liszt”.

Até hoje, a musicista portenha interpreta as mazurcas, estudos, polonaises, sonatas e baladas do compositor-pianista romântico com paixão, dramaticidade e sensualidade inigualáveis, e este CD é um must, tanto para os aficionados por Chopin quanto para os fãs de Martha Argerich.

Entre interpretações cheias de força, tensão e sentimento, o álbum traz aquela que é possivelmente a primeira gravação com Argerich: sua versão da Balada nº1 em sol menor, opus 23 executada para a RIAS de Berlim em 1959, aos 17 anos de idade. Outra raridade é o registro ao vivo da Sonata nº 3, opus 58 de Chopin, assim como diversas mazurcas e noturnos gravados em março e dezembro de 1967.

Autor: Klaus Gehrke (av)
Revisão: Carlos Albuquerque